sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amizade X Mentira

Muitos de nós (e aqui me incluo) temos a mania de "deixarmos passar" muitas coisas que não se pode deixar passar nas relações, e que aos poucos vão minando a vida, as próprias relações e as situações. A mentira e a falsidade são uma dessas coisas que, se deixamos passar, ela vira uma bola de neve sem fim, até que chegamos ao ponto de não sabermos mais como reencontrar o caminho da verdade.

Um amigo mentiroso, por exemplo. Sabemos que a pessoa é mentirosa, já a vimos mentir muitas vezes sem necessidade, mas deixamos passar porque afinal, para nós ela jura que sempre diz a verdade. E além disso, quem somos nós para condenarmos os outros, se nós também temos os nossos defeitos? E nisso seguimos "relevando". Mas é muita ingenuidade nossa achar que uma pessoa que tem a mentira como opção para a verdade, ou seja, que pode dizer a verdade sem problema algum, e mesmo assim opta em dizer uma mentira, jamais vá nos mentir. Um dia, sem sombra de dúvidas, vamos descobrir as mentiras que ela nos contou. E obviamente, como consequência natural, não temos como continuar confiando indefinidamente. A mentira gratuita é um comportamento doentio, que deve ser tratado, e que impossibilita a pessoa de ter amigos de verdade, simplesmente porque não tem como construir uma amizade verdadeira sem confiança.

Mas aí que entra nosso problema em "deixar passar". Mesmo descobrindo as mentiras, pegando a falsidade no flagra, e com muitas mentiras desmascaradas, nós "deixamos passar", seja por piedade, seja para perdoar, seja para dar mais uma chance para a verdade, enfim, por diversos motivos, vamos deixando passar, e enquanto isso a pessoa continua indefinidamente nos mentindo sem parar, nas coisas mais triviais e desnecessárias (e quem sabe nas coisas grandes também?). E se ameaçamos contar que sabemos que ela mente, que não somos tão ingênuos como ela contou que fôssemos, que em silêncio desvendamos suas mentiras, a pessoa se sente profundamente ofendida, e num outro mecanismo doentio de manipulação, fuga e projeção, tenta inverter o jogo, nos agredindo e acusando de não sermos amigos de verdade, e muitas vezes tenta nos fazer sentir culpados por termos desconfiado dela e de sua "amizade". E mesmo se apresentamos as provas, ela se justifica e mente ainda mais para sustentar a "necessidade" de nos ter enganado descaradamente, tentando, de uma forma ou de outra, se sair de vítima, ou quem sabe, de "nobre mentirosa".

Para mim, pessoalmente, se existe algo pior que a mentira, é uma pessoa fazer o mal e dizer que o fez por nobres motivos. Que se tenha pelo menos a dignidade de assumir que errou, mesmo que não queira pedir perdão ou coisa do tipo. Se pode ser "nobre" para mentir, pode ser *verdadeiramente nobre* para assumir os erros. De qualquer forma, a nobreza de caráter exclui automaticamente atitudes conscientemente más do comportamento de uma pessoa (ninguém mente por ignorância ética - só quem não assimila nem a ética mais básica, ou seja, os psicopatas - ou inconscientemente - sempre tem como saber que se está mentindo. No máximo mente-se gratuitamente por impulso, mas aí pode-se admitir que errou).  Atitudes conscientemente erradas e nobreza de caráter são auto-excludentes. Uma pessoa nobre encontra soluções nobres. Simples assim. O que caracteriza uma pessoa nobre é justamente sua capacidade de sofrer ou suportar privações para manter intactos seus princípios éticos e morais. Ou seja, uma pessoa nobre prefere ser despedida à mentir para o chefe, por exemplo. Existem poucos nobres nesse mundo, e um mentiroso que tenta se passar de nobre justificando e mascarando sua mentira como correta, ainda tem muito que aprender sobre ética e nobreza. A mentira não tem nada de nobre, menos ainda entre amigos.

E nós? Quanto mais percebemos o quão doente ela é, mais temos compaixão, oramos por ela, ficamos com aquele sentimento de impotência, de querer ajudar sem saber como, e **continuamos**. Até que um dia nós olhamos para a pessoa e vemos apenas a face da mentira. O que nela é verdadeiro? Não sabemos mais. Não sabemos mais quem ela é, ou até se um dia realmente a conhecemos. Não sabemos mais se o que ela diz, por mais simples que seja, é verdade ou mais uma mentira. Não sabemos mais nem mesmo, por exemplo, se ela pintou as unhas de vermelho, como ela diz. Precisamos que ela nos mostre para termos certeza. Precisamos olhar o "esmalte vermelho" nas mãos dela para *vermos com nossos próprios olhos* que ela está dizendo a verdade. Que amizade é essa que não pode ter a confiança como alicerce nem mesmo nas coisas mais simples e banais da vida?

E então olhamos para trás e nos perguntamos: será que algum dia ela disse a verdade sobre alguma coisa? De tudo que ela disse durante todo esse tempo, o que era verdade e o que era mentira? Se quando ela jurava que nunca nos mentia, e que aos outros só mentia em situações extremas, mas que nós sempre recebíamos dela apenas a verdade, e então descobrimos que tudo isso (e até isso) era mentira, como saberemos se existe alguma verdade em tudo que ela nos disse ao longo da amizade, que muitas vezes pode ter durado anos? Não temos mais como saber... Não temos mais como saber o tamanho da bola de neve que está à nossa frente, nem o tamanho do trajeto que ela percorreu, porque a única pessoa que poderia nos dar essa certeza, nos guiar para a verdade, não raras vezes é a própria pessoa mentirosa, cuja palavra não vale mais nada sob nossos olhos.

A única saída numa situação assim é cortar relações, por mais que gostemos da pessoa. O que mais poderíamos fazer? Não digo brigar, mas fechar para ela as portas do nosso mundo, da nossa vida, da nossa amizade. Não tem como construir uma relação (seja ela qual for) sozinhos. Se uma das partes não coloca material de base para essa construção, um dia ela desmorona, não tem jeito. E para reconstruir sob os escombros demora muito mais tempo, porque primeiro é necessário retirar os escombros, que são pesados e que podem machucar, para depois começar a reconstruir. Só que é um investimento que requer materiais ainda mais nobres que o da construção, como o perdão, a disposição emocional, a paciência, a verdade plena, o tempo e sobretudo, um amor verdadeiro.

O problema que o mentiroso deve entender é que ainda é difícil encontrar na terra quem tenha todas essas virtudes à disposição daqueles que nos enganaram, nos foram falsos e mentiram para nós até quando nos juravam veracidade sob a égide de uma amizade à qual confiávamos de todo coração. E o indivíduo que passa pela situação de se ver diante de um mentiroso que lamenta a perda de sua amizade, não deve se martirizar por não ser ainda um santo, por não estar disposto a ser canonizado, reconstruindo uma amizade que no fundo nunca foi amizade. De qualquer forma o mentiroso que age assim com seus amigos deve se tratar, se realmente deseja, um dia, ter uma amizade verdadeira com quem quer que seja. Sem curar o seu caráter, só irá sofrer e fazer sofrer.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Desatando Ilusões

Na maioria das vezes vivenciamos relacionamentos problemáticos e até doentios porque ficamos receosos de tomar uma atitude definitiva. Quando se trata de relacionamentos conjugais, passam-se anos e anos até que um dos cônjuges, ou até os dois, tomem a decisão necessária e saudável da separação definitiva. Quando se trata de amizades, podem-se passar anos à fio igualmente insistindo numa amizade que nada trás de construtivo, prazeroso e até fraternal à ambas as partes. As coisas acontecem, os anos passam e fica-se "perdoando", "perdoando", "perdoando", quando no fundo a sujeira está é sendo colocada embaixo do tapete, que cada vez fica mais sujo.

Um dia, como sempre acontece, essa sujeira sai... Um vendaval mais forte levanta ele do solo e toda sujeira é exposta. Nesse dia é praticamente inevitável um afastamento, até para que as partes possam ter tempo de limpar verdadeiramente o ambiente e quem sabe, um dia, voltarem a se encontrar naquele local, ainda que não continuem os mesmos vínculos de outrora. Algumas mágoas, por serem realmente profundas, precisam ser incineradas e muito bem desinfetadas, jamais abafadas ou engolidas, para que não nos dê intoxicações que possam resultar em cânceres de difícil cura na alma.

Há relacionamentos que se tornam tumores que precisamos extirpar, para que nossa alma possa ser limpa e curada. É uma situação muito difícil para quem, por necessidade ou até convicção religiosa, deseja "perdoar" (só convencionalmente, porque na verdade remói no fundo do coração uma mágoa secreta e inconfessável) e sofrer todas as dores do câncer até que ele leve à morte por metástese. Quando há perdão verdadeiro a alma se auto-cura e a relação, se não é para ser, extingue-se sem trazer qualquer dano psíquico. A ilusão acaba e o desenlace se faz naturalmente. Quando há apenas o aparente perdão a relação continua, mesmo quando não é para ser, trazendo imensos prejuízos emocionais e psíquicos, pois que é quase impossível conviver com um desafeto como se ele fosse um afeto e não se adoecer no processo.

Ou é afeto ou é desafeto, não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo. E o primeiro passo da cura é assumir para si mesmo e para Deus o que aquele irmão é no nosso coração. É desafeto? Então não ofereça à ele as flores sublimes da afeição que só os afetos podem receber sem as macular ou destruir. Nossa afeição sincera é uma flor muito delicada que entregamos nas mãos daqueles cultivadores que as regarão, cuidarão e a deixarão mais lindas. Não podemos dar essas flores para os desafetos, porque são delicadas demais, imprescindíveis demais para a harmonia e equilíbrio de nosso Jardim Íntimo.

Não podemos fingir para nós mesmos que um desafeto é um afeto, esteja ele em que posição for na nossa vida (marido, mãe, pai, irmão, amigo, etc). Temos que, antes de tudo, colocá-lo no devido lugar, para depois, com trabalho, cuidado e paciência, conduzí-lo pouco à pouco ao posto de afeto, se for esse o desejo de ambas as partes. Somos todos irmãos, acima de tudo. Mas não podemos fingir que nossa fraternidade é perfeita como são as dos anjos. Temos desafios imensos, e assumirmos isso é o caminho para a maturidade e para as conquistas afetivas eternas e construtivas.

Somos humanos, acima de tudo. Fadados à pureza espiritual, mas até que cheguemos nesse patamar, muitos desafios enfrentaremos com nossos escolhos pessoais. Muitos caminhos de espinhos caminharemos, e muitas dificuldades enfrentaremos dentro de nosso próprio coração. Ora teremos afetos, ora teremos desafetos, é inevitável. Nossa busca incessante não é para jamais termos um desafeto, mas para que, tendo algum, busquemos transformá-lo em afeto no tempo do nosso coração. Deus é paciente, não nos obriga a amar todos os nossos irmãos, apenas diz que um dia essa será nossa realidade, e que se permitirmos, Ele nos ajudará à chegarmos no fim desse caminho... Mas nunca nos obriga a sentirmos o que nosso coração não consegue sentir naturalmente. Ele nos conduz aos caminhos, nunca nos obriga a caminhar por eles com pressa, sob pena de perder Sua condução. Somos nós que nos impomos a perfeição antes do tempo, jamais Deus faz isso conosco.

Ele sempre nos dá tempo para que, naturalmente, por desejo e necessidade sinceras de nossa alma, caminhemos pelos caminhos que Ele nos traçou. À nós cabe o compromisso firme e incessante de jamais desviarmos desses caminhos e sobretudo, das mãos do Condutor...

domingo, 10 de outubro de 2010

Tábuas de Salvação

A expressão "Tábua de Salvação" é usada para designar muitas situações, mas sobretudo aquelas que dizem respeito à questões religiosas. Queria hoje usá-la para designar pessoas. Sim, isso mesmo, pessoas. Mas então pessoas podem ser a "tábua de salvação" de alguém? Não deveriam ser, posto que nós somos dotados de potencialidades e capacidades que nos faz termos condições de salvarmos à nós mesmos, sem dependermos de outros. É claro que muitos ajudam-se mutuamente, e isso é das coisas mais grandiosas e divinas do convívio humano. A ajuda mútua, a verdadeira fraternidade. Mas isso não é tábua de salvação, já que receber ajuda num momento de dificuldade não designa ninguém a não ser capaz de ajudar à si mesma.

As "tábuas de salvação" à que me refiro são aquelas que elegemos como "as únicas" que podem dar equilíbrio à nossa vida. Sem elas, portanto, nada somos, ou nada conseguiremos, ou pior, nada mais nos restará à não ser a dificuldade e a desventura. Como gosto sempre, queria exemplificar essa situação com os relacionamentos, porque são eles, em muitos casos, a mola propulsora das nossas escolhas, decisões e até sacrifícios pessoais.

Particularmente eu fico muito triste quando vejo alguém depositar em outra, o único motivo de sua luta por melhoria, ou de sua plenitude íntima, abrindo mão totalmente de si mesmo (como individualidade e não enquanto ego) para "ser melhor" para o objeto de sua devoção. Esse "ser melhor", naturalmente inclui ser do jeito que o outro queria, e não do jeito que ela própria se sentiria tão feliz, mas tão feliz consigo mesma, que lutaria sempre e mais por si mesma, não por outra pessoa. Por isso penso o seguinte: quando alguém ama-se por causa de outro, e não por causa de si mesmo, tem alguma coisa errada com esse auto-amor. O auto-amor inclui, indubitavelmente, a satisfação conosco mesmos, por quem somos, pela divindade que existe em nós, e não pelo que gostaríamos de ser para sermos melhores para determinada pessoa. Isso não é auto-amor, é anulação. Um pseudo-altruísmo, que cedo ou tarde, ruirá, ou deixará a pessoa tão perdida dela mesma, que lembrará de si mesma não como "Maria", mas como "mãe do Joãozinho", "esposa do José", "filha do Manuel". Ela será tanto dos outros, ela terá "melhorado" tanto pelos outros, terá vivido tanto em função de ser melhor para os outros, que não lembrará mais do seu próprio nome.

Aí que entram as tábuas de salvação. Quando uma pessoa chega a tal estágio de esquecimento de si, ela naturalmente fica desorientada, e obviamente sem saber como fazer para sair de uma situação que a atormenta, mas que ela nem tem coragem de olhar-se para identificar de onde vem tanta inquitude íntima, ela acaba por simplesmente reagir, ficando com o equilíbrio "emocional-racional" descompensado. Ou fica um vulcão emocional de difícil convivência, tendo muita dificuldade para racionalizar e refletir sobre as situações que vive. Ou então fica tão racional, que até seus gestos de amor são contabilizados, racionalizados, medidos e claro, matematicamente "corretos". E não raras vezes reage violentamente, seja machucando-se ou machucando outros, com atitudes extremamente impulsivas ou friamente calculadas. Nesse estágio ela pode ver-se numa situação tão desesperadora, que olha em torno de si e tudo que desejaria era fugir dalí e nunca mais voltar. Mas então ao mesmo tempo ela vê-se sem saber como viver sem aquela situação ou sem aquela pessoa, porque eles e não ela, são sua referência máxima, o alicerce de todas as suas ações.

Ela só aprendeu a viver por aquelas pessoas, por aquela situação, por aquela causa. Ela não sabe mais viver por si mesma, e amar como extensão e consequência do seu próprio auto-amor. Então maridos difíceis, por exemplo, que mais que notadamente não a amam, só desrespeitam e a tiranizam, são suas tábuas de salvação. Embora elas saibam e até consigam dizer para algumas pessoas mais chegadas, que não amam mais o marido, ou que eles são tudo que elas não sonharam num homem, ou até mais, que eles só prestam mesmo como pais, nunca como esposos, elas não conseguem assumir isso para si mesmas, e passam dia após dia, fingindo para si mesmas que os amam e que sem eles não sabem viver. Claro que não sabem viver. Elas não sabe viver sozinhas, não sabem serem felizes por si mesmas, não sabem simplesmente existir e dar graças por isso. Esses maridos, ou filhos (há mães que se desesperam quando os filhos decidem se casar), ou mães e pais, passam a ser suas tábuas de salvação.

Enfrentam o sofrimento que for para não perderem essas pessoas, para agradarem essas pessoas, para que elas jamais decidam ir embora. Fazem o que for para fingirem para si mesmas, e até para essas pessoas, que as amam e as querem por perto. Se elas se mostram insatisfeitas ou ameaçam partir, a vida dessas pessoas ameaça acabar, e elas podem até preferir suicidarem-se a viver com a possibilidade de terem uma vida sem suas tábuas de salvação. Então nós vemos a contradição em muitos dos discursos dessas pessoas. Nos momentos em que a suas tábuas estão alí seguras em suas mãos, elas se sentem livres para dizerem que não suportam mais viver com aquelas pessoas, que sequer têm interesse em investir mais no relacionamento, que estão alí porque elas tem isso ou aquilo de bom, embora não tenham nada de bom no papel de que lhes cabe, ou porque pensa nos filhos, porque é mais cômodo, e chega ao ponto de se interessarem por outras pessoas e terem casos extra-conjugais. Mas é só surgir a ameaça de rompimento, ou um afastamento imposto pela vida, que essas mesmas pessoas ressurgem entre lágrimas, desespero e dor, dizendo o quanto a sua tábua é o seu grande amor, a pessoa mais importante do seu mundo, o quando ela é incompleta sem a sua presença e por aí até as mais arrebatadas declarações de amor incondicional.

Sim, isso mesmo, amor incondicional, que muitos confundem com amar sem ser amado. Amar incondicionalmente quer dizer amar sem restrições, amar sem condições, amar pura e simplesmente por amar, por nada mais. Não quer dizer amar sem ser amado. Essa é uma das características do amor incondicional, não seu significado. Agora caiamos na real: que mulher normal desse mundo (exclui-se as almas angelicais que volta e meia caem na Terra) amaria um homem sem desejar ser amada também? Que mulher romântica e normal nesse mundo, por exemplo, acharia que o amor de sua vida, é um homem que não seja capaz de lhe dizer nem mesmo um "eu te amo", que não seja capaz de lhe dar nem o menor e mais simplório gesto de romantismo? Sejamos francas: nenhuma! Mulher alguma, que seja minimamente bem-resolvida e romântica, e não seja uma alma verdadeiramente elevada e desprendida de um amor mundano, diria que um homem com esse perfil é o seu grande amor. Muito provavelmente ele é sua tábua de salvação, não o homem de seus sonhos. Se ela diz isso é porque está doentiamente se enganando e enganando o outro, não porque elevou-se à patamares realmente evoluídos de amor romântico incondicional, capazes de amar por esse prisma sem serem minimamente correspondidas em seus anseios de mulher. O mais notável é que essas pessoas continuam sendo egoístas, orgulhosas, cheias de falhas, como todos os seres-humanos normais aqui da Terra, mas só no amor romântico (ou filial, ou maternal) demonstram uma tamanha evolução espiritual, com um desprendimento e altruísmo capaz de deixar os anjos com inveja! Infelizmente não é evolução espiritual, mas as mais tristes e dolorosas máscaras... 

Mas é claro que ele pode ser o homem dos sonhos de outras mulheres, mas não o de uma mulher que tem em seus anseios femininos mais secretos e doces, o romantismo do homem amado. Essa mulher, se diz para um homem com esse perfil, que ele é seu grande amor, sem dúvidas se apagou tanto, mas tanto, que está tentando ser a parceira ideal dele, abrindo mão de seus anseios femininos, negando-se enquanto mulher, para se tornar os anseios masculinos dele. Provavelmente ela terá sua tábua de salvação sempre ao lado dela, mas há que preço!

É muito, muito triste ver isso, ver uma pessoa, no papel que for, esquecer-se tanto de si mesma, que tenha a necessidade constante e perene de encaixar-se num lugar onde ela não cabe, ao mesmo tempo que tenta encaixar uma pessoa num lugar onde ela também não cabe, só para não ter que olhar verdadeiramente para si mesma, abrir mão de sua tábua de salvação (seria um ato não só de auto-respeito, mas de respeito ao outro, porque é muito humilhante ter alguém que nos ame porque somos suas tábuas de salvação) para aprender a andar sozinha, e então sim, conseguir saber "com quem ela deve andar" para viver uma vida de verdadeira partilha, de verdadeira utilidade, e sobretudo com as mãos verdadeiramente unidas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Casamento e Interesse

Muito se fala sobre o casamento por amor, mas pouco se fala sobre o casamento por amor aos próprios interesses. E aqui não digo sobre os casamentos arranjados e motivados pelos bens materiais, mas de casamentos que podem até se formar por paixão, mas que depois se transformam em um típico jogo de interesses.

Penso que hoje, a maioria dos casamentos chegam à esse patamar um dia. Podem ter começado com amor, com paixão, com entusiasmo de construirem uma família, mas que depois, com o tempo e as mudanças naturais que os cônjuges sofrem, o casamento começa a funcionar apenas porque é mais interessante para ambas as partes que ele continue.

Vê-se, nesse estágio, as famosas aparências, que na maioria das vezes são mantidas para ambos os cônjuges mesmo, não necessariamente para a sociedade. Eles precisam acreditar que o casamento não acabou, que o amor não acabou, que a solidão íntima que vivem é questão de tempo, que tudo vai passar um dia, mesmo que esse dia fique cada vez mais longe, emocionalmente. Há cônjuges que sequer amigos conseguem ser, quiçá pares românticos. Mas mesmo quando isso é óbvio para qualquer um que tenha um pouco de intimidade com esse casal, eles continuam dizendo que "o amor deles transcendeu para um patamar mais evoluído de relacionamento": cada um vive sua vida mental e emocional, cada um tem seus amigos que sequer se conhecem entre si, cada um tem seus interesses, e no máximo concordam na educação dos filhos. É, realmente um patamar mais elevado sim, mas não de amor, e sim de auto-ilusão.

É triste ver um casal nesse ponto, onde a separação seria mesmo o mais saudável, por uma questão mesmo de auto-respeito. Das piores coisas que existem é uma mulher, por exemplo, se prostituir para o próprio marido. Aquela mulher que não sente mais nada pelo homem com que vive, que apenas está acomodada à vida que já construiu, mas que continua tendo que deitar-se com ele. Não tem outro nome para isso além de prostituição. Ela vive intimamente com um homem que não ama mais, que não a completa mais, que nem mesmo amigo dela é mais, em troca de ter uma família.

Vejo mulheres, em confidências (que por acaso não gosto de ouvir, mas até que aprendi a dizer não, ou melhor, "não me conte sua vida íntima com seu marido", eu ouvi bastante coisa), relatarem o quanto seus maridos são ruins de cama, com direito a piadas degradantes sobre o desempenho do companheiro, o quanto se sentem sozinhas mesmo acompanhadas, o quanto são incompreendidas e até tolhidas em escolherem desde os amigos até as coisas mais banais, e mesmo assim dizerem: estou com meu marido porque somos ótimos para educar os filhos, porque ele me dá uma vida estável, porque ele não me bate, não bebe e nem tem vícios. Isso é prostituição. Se entregam à um homem que não lhes dão prazer, que não amam e nem mesmo respeitam, e igualmente não são amadas e respeitadas, só para ganharem uma família, estabilidade e segurança no lar.

Enfim, o fato é: vivem com eles, têm vida sexual ativa e regular com eles, não por amor, mas por interesses pessoais. É prostituir-se para o próprio marido. E com agravantes, porque as prostitutas de luxo, em muitos casos, podem selecionar seus clientes, ou serem livres para terem uma vida só delas em paralelo: estudarem, viajarem, terem amigos, cuidarem de si mesmas. Essas esposas além de se prostituirem, estão presas à um homem que não lhes interessa nem emocionalmente e nem sexualmente, e não são livres para viverem a própria vida, e pelo menos crescerem pessoalmente enquanto mulheres.

E é por isso que acredito que, por mais difícil que possa ser para a pessoa, ela precisa desesperadamente assumir para si mesma a mentira que vive, para então, mesmo que seja aos poucos, ir se libertando dessa relação e aprendendo, pouco a pouco, a ir embora viver a própria vida, com dignidade e auto-respeito. Vivendo sozinha mesmo, ou encontrando um outro companheiro com quem ela possa fazer amor de verdade, partilhar o mundo dela, receber o mundo dele, sentir realmente prazer emocional na relação, em suma, ser feliz.

Há quem resista por anos e anos à fio numa relação assim, porque é mais importante para essas pessoas terem uma família tradicional, do que viverem a realidade da mudança, da necessidade de renovação e até da honestidade com eles mesmos. E muitos, mas muitos mesmo estão assim porque têm pavor de assumirem até para eles mesmos que o amor acabou, que a relação acabou, que simplesmente não deu certo, como muitas coisas na vida não dão. A maioria tem isso num nível quase consciente, que vêm à tona nos momentos de maior sofrimento, mas quase que instantaneamente, recolocam no subconsciênte e abraçam outra vez a máscara da estabilidade. É triste ver tanta gente sofrendo por medo...

Ficam todos os dias buscando detalhes que lhes provem que o amor ainda existe, ou procurando nas entrelinhas qualquer coisa que lhes diga que vale à pena continuar investindo. E cada dia esse investimento sai mais caro... Um dia, quando ambos estão doentes emocional e psicologicamente, "a casa cai", e não raras vezes o estrago é grande, de difícil recuperação. E muitas vezes o estrago é tão grande que eles nem tem mais coragem, condições e até disposição para recomeçarem.

Não há nada mais humilhante para uma pessoa que outra estar ligada à ela por compromisso ou interesse pessoal, mesmo que esse interesse seja a educação dos filhos. A união de qualquer casamento deve ser o amor e o prazer emocional que a vida à dois lhes proporciona, a saúde que o companheirismo autêntico lhes dão enquanto individualidades. Na verdade um casamento de mentira não trás estabilidade, não garante a segurança no lar e menos ainda educa os filhos, pelo contrário, destrói toda a esperança que eles poderiam depositar na sagrada instituição da família e na felicidade plena que o amor pode dar à nós, seres-humanos, que fomos criados por Deus para o amor, não para a mentira.

Educação e Exemplo

Queria tratar aqui de um assunto que é sempre muito debatido, que é a educação dos filhos. Mais especialmente sobre a nossa vida como a maior e mais eficaz mestra dos nossos filhos. É de conhecimento comum que os filhos se espelham muito nos pais, e que na idade adulta vêem-se repetindo tudo aquilo que viam seus pais fazerem. Isso aí: tudo aquilo que viram seus pais *fazendo*. Embora quase todos os pais comprometidos com a educação saibam disso, não são todos que são comprometidos com a auto-educação. O que isso quer dizer em termos práticos? Que não adianta falar para o filho não beber, por exemplo, e entornar copos de cerveja na própria boca. Ou ensinar que refrigerante faz mal à saúde, com uma garrafa de coca-cola na geladeira à disposição dos "adultos da casa". Não adianta proibir o filho de assistir desenhos violentos, e depois ir na locadora alugar filmes de vampiros (que estão na moda, infelizmente) e guerras.  Não adianta vetar o acesso do filho à literatura de gibis modernos e passar horas à fio lendo livros de arte duvidosa, com cenas de violência explícita, por mais românticas que sejam. Agindo assim não estaremos ensinando nossos filhos que tudo isso não é bom para a saúde integral dele, por mais palavras maduras e pedagogicamente embasadas que lhes dizemos por anos à fio. Estaremos sim, ensinando à eles a serem os mais velados e cristalinos hipócritas, porque o mestre silencioso chamado *exemplo* tem um eco muitíssimo mais forte que todas as palavras que lhes dizemos ao longo da vida, e esse mestre estará dizendo a ele que deve-se ensinar uma coisa e fazer outra.

Mas então poderíamos alegar para nos justificar: "ah, mas meu filho não me vê bebendo, nem vendo os filmes e menos ainda lendo". Ora, mas isso não seria sermos hipócritas conosco mesmos também? O filho pode não ver, mas *nós saberíamos* que estaríamos vivendo uma vida de mentiras, e por consequência ensinando os filhos a viverem dessa forma tão triste, porque independente dos filhos verem ou não verem, eles estão *inseridos* nessa família, convivendo, crescendo, sendo educados, interagindo e respirando dentro desse lar. Mesmo que ele não veja com seus olhos físicos, ele está mergulhado num ambiente que exala hipocrisia e mentira, e é sim influenciado de forma sutil e concreta.

Não adianta nós educarmos nossos filhos de uma forma restrita, politicamente e ecologicamente correta, se não *vivermos* de forma tão restrita quanto aquela que pregamos. Nossos filhos e a verdadeira educação deles deve valer mais para nós que refrigerantes, bebidas alcoólicas, cigarros, filmes e livros que são lixos culturais, ao ponto de renunciarmos à tudo isso se realmente acreditamos que não são boas coisas, tanto que ensinamos isso à nossos filhos.

Do meu ponto de vista, um pai que bebe muita cerveja e acha que beber é a melhor coisa da vida, e por isso molha a chupeta do filho no copo de cerveja dizendo à ele desde pequeno que ele tem que aprender as coisas boas da vida, apesar de estar totalmente errado em termos psicológicos e físicos, ele está sendo mais honesto que aquele pai de ensina o quanto a bebida é ruim e bebe depois, escondido ou não dos filhos. Porque embora ele esteja educando seu filho à ser um futuro alcóolatra físico e psicológico, ele está ensinando o que realmente acredita que é certo. Ele pode estar sendo um péssimo pai, mas está sendo um bom educador, dentro do que ele acredita ser uma boa educação. Embora falhando num aspécto realmente grave, ele está sendo honesto, errando por ignorância, não por negligência.

E nós quando não vivemos o que pregamos, quando não damos à nossos filhos nem mesmo o exemplo de honestidade, estamos sendo péssimos pais e péssimos educadores, errando por negligência, já que acreditamos que o que fazemos de errado, é mesmo errado. Estamos ensinando à eles que bebida não é bom, mas que escondido podemos beber. Estamos ensinando que bebidas faz mal à saúde *dos outros*, porque da nossa não deve fazer, já que embora ensinemos para os outros que é ruim, continuamos bebendo. Quando educamos nossos filhos assim, nós estamos falhando em todos os aspéctos, porque repercurte no físico (ele fará escondido, como viu os pais fazerem), no psicológico (mentir para si mesmo é uma das mais graves doenças psicológicas), no emocional (quem consegue conviver bem usando mil máscaras para se apresentar diante da sociedade?) e sobretudo moral (a hipocrisia foi o flagelo mais energicamente combatido pelo Cristo).E claro, estou colocando exemplos materiais, mas falo de todo tipo de vício, os morais também.

Quando nos tornamos pais, Deus não nos pede apenas que guiemos para o bom caminho um de seus Filhos. Ele nos convida também à irmos, junto com nossos filhos, para esse bom caminho. Como podemos segurar nosso filho pela mão na estrada de uma vida digna, boa, saudável e eticamente correta, se não caminharmos nessa mesma estrada junto com ele? Nós temos que perder a idéia de que, só porque Deus colocou criaturas sob nossa custódia, significa que estamos preparados para os educar sem que precisemos de nenhum ajuste ou mudança de vida. Deus educa-nos, enquanto educamos nossos filhos... Se Ele nos mostra o que é melhor para nossos filhos, mostra também o que é melhor para nós. Se conseguimos ver, entender, debater e até criticar quem vive de uma forma que achamos ruim, então é porque estamos mais que prontos à *viver* em todos os detalhes, aquilo que vemos, entendemos e debatemos que é o melhor.

Emmanuel, mentor de Chico Xavier, tem uma frase excelente sobre isso: "A palavra convence, mas o exemplo arrasta". E é assim. Com a palavra podemos até fazer nossos filhos entenderem no racional tudo aquilo que pregamos ser bom para eles, mas é com a força inexorável do exemplo, que os arrastamos para a saúde ou para a doença, dependendo exclusivamente da forma como vivemos.

Gandhi também tem uma colocação para isso: "Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros".

Em suma, é vivendo bem que educamos bem. É nos educando conforme educamos nossos filhos, que podemos ter mais esperança de um dia não dizermos a famosa frase: "Onde foi que eu errei?" É vencendo os nossos próprios vícios, que ensinamos nossos filhos a terem hábitos saudáveis. É renunciando à tudo aquilo que cremos ser ruim para nossos filhos, que vamos realmente ser dignos do papel que tentamos desempenhar com tanta dedicação e amor. Não basta amá-los, temos que nos amar também, e vivermos tudo aquilo que desejamos que eles vivam, para serem mais felizes e mais saudáveis. Não é fácil, e certamente vamos falhar muitas vezes, mas eles também verão que estamos tentando, e aprenderão outra linda e valiosa lição: errar enquanto tenta acertar e recomeçar sempre, sim. Desistir de investir no bem de si mesmo e daqueles que amamos, nunca.



sábado, 7 de agosto de 2010

Cadê a Gentileza?

O mundo de hoje parece que esqueceu o que é a gentileza. Um dia desses estava me perguntando: por que o mundo evoluiu e o ser-humano parace que ficou mais rude, menos gentil?

Antigamente, nas décadas e até séculos passados, nós éramos mais educados, mais gentis, menos grosseiros uns com os outros, tinhamos mais respeito ao lidar com nosso semelhante, especialmente se eram mais velhos. Mas então me pergunto: será que pioramos mesmo, ou será que na verdade éramos mais hipócritas, e polidos por dissimulação e não por educação? Será que o problema está no fato de que hoje em dia nós podemos nos mostrar mais sem sermos julgados, e então por isso nos preocupamos menos com a educação, o respeito e até o linguajar ao tratar os outros?

Ou por algum motivo o mundo acabou perdendo as referências de educação, gentileza e boas maneiras? Não sei, só sei que é cada vez mais raro encontrarmos mulheres-damas e homens cavalheiros. Um dia desses até fiquei chocada mesmo com uma cena dentro do Metrô lotado. Entrou uma moça grávida e com um bebê de colo, e um rapaz novo que estava sentado, ao vê-la, imediatamente fechou os olhos e começou a fingir que estava dormindo! E foi uma moça que levantou para dar lugar à ela! Eu achei mesmo absurdo tamanha falta de cavalheirismo e comentei alto, para outros homens ouvirem: "tanto homem sentado, e uma moça que cede o lugar para a grávida!". Na mesma hora um homem que estava do meu lado, em pé, disse: "Que tem demais? Direitos iguais." Eu olhei para ele e só pude fazer uma prece de agradecimento à Deus por ter um esposo cavalheiro.

Direitos iguais entre homem e mulher se transformou em falta de cavalheirismo! Vendo por esse ângulo, talvez fosse melhor antes, quando não tínhamos direito ao mercado de trabalho e nem a votar, porque éramos tratadas com mais delicadeza pelos homens! Será que ele lava, passa, cozinha e cuida dos filhos também, ou os "direitos iguais" é só para justificar o não ceder o lugar para uma grávida com uma criança de colo?

Por esse tipo de cena, que acontece todo o tempo numa cidade como o Rio de Janeiro, é que penso que o mundo parece mesmo virado, e em vez de termos acompanhado o progresso na educação e delicadeza no trato, parece que ficarmos mais grosseiros e mau-educados. Será que nos outros lugares do mundo também é assim?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Mudanças

Muito se fala sobre a metáfora do "homem velho" e do "homem novo", simbolizando nossos renascimentos íntimos. E a verdade é que realmente, durante uma só vida, nós estamos sempre renascendo, estamos sempre deixando o "homem velho" para trás e surgindo renovados. E vamos observando que muitas coisas que pensávamos no passado, mudam complamente à medida que a Vida nos experimenta.

Até nossos gostos pessoais mudam. Passamos a nos vestir diferente, a gostar de músicas diferentes, a ter uma vida diferente no geral. Mas além disso tudo, que na fundo são reflexos, é nosso íntimo que muda. É incontestável que a Vida, quando bem aproveitada (no sentido de aproveitar-se as lições morais, e não no sentido de "curtir"), revela-nos uma Mestra sem igual, e desses novos aprendizados que vamos acumulando diariamente, promove-nos à mudança incessantemente.

Mas isso não é sempre que acontece, pois que há muitos de nós que mudamos o sentido de aproveitamento da Vida, e em vez aproveitarmos as lições morais, corremos a aproveitar os prazeres da matéria, tão efêmeros quanto ilusórios, e agarrando-nos ao comodismo psíquico, acabamos por envelhecer fisicamente, mantendo posturas e emocional de adolescentes, quicá de crianças. E com isso sofremos mais, porque não aprendemos a enfrentar as dificuldades da madureza física, com a sabedoria que a idade proporciona. Os problemas mudam, mas nós não mudamos, e sofremos, tal qual uma criança sofreria para responder uma prova de faculdade.

Por tudo isso creio que as mudanças são muito importantes, e mais importante ainda é estarmos atentos à nós mesmos, sempre em busca do autoconhecimento, para não só identificarmos que mudanças ocorreram conosco, como também para atentarmos se estamos estacionados em algum comportamento mais infantil e imaturo, requerendo reavaliação e aprimoramento.

A Vida no fim é para isso, para começarmos a crescer no ventre materno e não pararmos de crescer e amadurecer nunca.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Amor ou Ilusão?

Ainda falando sobre companheiros que tentam moldar suas companheiras (pode ser o contrário também). Esse é um assunto extenso, e que dificilmente alguém não vivenciou um dia. Penso que há dois tipos de casos assim. Há aquele em que o homem tenta mudar a personalidade da mulher, e aí penso ser muito ruim, porque descaracteriza a pessoa, faz ambos infelizes enquanto constrói-se não uma relação, mas uma ilusão. Nesses casos, por exemplo, a mulher é mais delicada e terna na intimidade e o homem quer que ela se porte como uma prostituta, ou ela se sente bem com o estilo mais moderno e ele quer que ela seja mais clássica, ou ela tem talento e desejo de realizar projetos profissionais e ele quer que ela seja dona-de-casa, enfim, tudo que muda as disposições íntimas que moldam a nossa personalidade e nos faz únicos entre nosssos iguais em humanidade. Mas há um outro tipo de mudança que é benéfica e até é sinal de verdadeiro amor. É aquele em que o companheiro ajuda sua companheira a se despir de vícios que lhe fazem mal à saúde física, espiritual, emocional e psicológica. Um marido que ajuda sua esposa com o alcoolismo, por exemplo, onde ele não tenta mudar a personalidade dela, mas mudar hábitos que são perniciosos para ela, e que até ajudam a esconder sua verdadeira personalidade, porque ninguém que é viciado em qualquer tipo de droga, é totalmente ciente de si mesmo, porque as drogas destróem muito do emocional, do psiquismo e também do espiritual.

Ou então uma esposa que tem sérios problemas com o egoísmo, ou hiper-centrada na vaidade, esquecendo que existe qualquer coisa além dela mesma. Gasta toda sua vida, suas energias e seus potenciais, em cuidar de si mesma fisicamente e esquece do resto do mundo, e até mesmo dos mais próximos. O egoísmo e a vaidade não fazem parte da nossa personalidade, porque são vícios morais que existem para serem extirpados pouco à pouco. O que existe em nós são potenciais divinos que devem ser cada dia mais aflorados e trabalhados, e ajudar nossa cara-metade à ver-se enquanto criatura divina, bela e potente em virtudes por natureza, é uma amar, não tolher.

Agora existe o grande desafio... A pessoa quer mudar? Essa é a pergunta de sempre em processos assim. Não adianta o marido passar anos e anos tentando ajudar a esposa a sair do alcoolismo, da vulgaridade e depreciação de si mesma, se ela não está disposta à isso, se ela "gosta" de viver bêbada, em situações vulgares e depreciativas diante da sociedade e do próprio lar. Ela vai encarar a ajuda dele como tolhimento, e para ela será mesmo um tolhimento, porque se aquela é sua zona de conforto, sair dalí é como se sentir descaracterizada. Em essência e em *verdade* ela estaria sendo amada e ajudada a se descobrir verdadeiramente e à encontrar-se, mas na prática ela se sente rejeitada, muitas vezes até humilhada (quando ela própria está se humilhando no alcoolismo e em situações de ridículo que essa situação proporciona), se sente tolhida e mal-amada, afinal seu marido "não aceita ela como ela é", "não gosta do jeito dela", "não aceita a vida que ela escolheu para si mesma", "é preconceituoso", "a faz sentir-se inferior", e muitas outras coisas, que no fundo são transferências, porque quem faz tudo isso com ela, é ela mesma.

Por tudo isso penso que devemos sempre analisar com cuidado o tipo de mudança que nossos companheiros nos pedem, e até que nós mesmos exigimos deles. Essa "ajuda" é para nos transformar em um modelo que ele idealiza como a "mulher perfeita", ou essa ajuda é realmente uma ajuda para nos encontrarmos em meio à nossos vícios, limitações e perdições pessoais? Essa mudança vai nos fazer bem enquanto criaturas divinas que somos, ou vai nos fazer mal? Essa mudança vai nos deixar com mais saúde de um modo geral, ou vai nos deixar doentes de alguma forma?

Estamos sendo realmente amadas por um companheiro que vê a beleza da nossa alma mais até que nós mesmas, ou estamos sendo moldadas como bonequinhas, para o luxo pessoal de um homem manipulador?

sábado, 8 de maio de 2010

Amor e Essência

Hoje estava lendo um blog excelente que descobri à poucos dias, e li um artigo que chamou muito a minha atenção pela forma madura e lúcida com que a autora tratou do tema "casamento". Um trecho que achei fantástico, em que ela fala sobre as mudanças que não devemos jamais fazer em prol de outros e de um relacionamento: "Aquelas que nos tiram a alma… As que exigem, que sejamos outra pessoa, as que nos fazem infeliz, que nos fazem fingir, mentir, esconder. As que fazem com quê nos sintamos culpados por sermos quem somos;

Fazer isso conosco é um auto-crime dos mais cruéis, e querer fazer isso com alguém, um crime hediondo também, porque mais que matar o corpo, mata a alma, mata nossa essência, o que temos de mais valioso e divino, porque foi o que recebemos de Deus ao sermos criados. Mata a individualidade que Deus criou de forma exclusiva. Mata nossos potenciais, nossa capacidade de crescer e expandir a nossa Verdade íntima e intransferível, mata o que temos de mais sagrado em nós, a assinatura de Deus na nossa alma.

Quando alguém nos exige que sejamos algo diferente do que somos à fim de nos amar e nos aceitar, é porque não somos amados de verdade. Não somos queridos ou desejados de verdade. O que quer que seja que essa pessoa sente por nós, não é amor. Se fosse, haveria encantamento pela forma que somos, e não rejeição. Se fosse, haveria atração pela nossa autenticidade, e não rejeição. O amor, quando é amor de verdade, ama a essência, ama justamente o que nos faz únicos, ama o divino que nos habita, ama justo aquele diferencial que é só nosso, e que nos faz, aos olhos do amor, um ser especial. Eu não consigo compreender um amor que rejeita a autenticidade de alguém, menos ainda que queira mudar uma pessoa para algo que idealiza-se como modelo de alguma coisa.

Das coisas mais tristes que vejo, são pessoas tentanto apagar sua essência divina e única, para se moldar aos modelos de perfeição de pseudos-amores. É triste ver o brilho próprio e único de alguém, ser apagado para satisfazer as necessidades de pessoas que não as amam verdadeiramente. E o mais triste é que não raras vezes elas juram que são amadas... Mas de que adianta viver a ilusão de serem amadas, se elas destróem o auto-amor no processo? Só é amado verdadeiramente, aqueles que se auto-amam e que sabem expandir e fazer crescer cada vez mais o brilho próprio.

Apagar-se para ser amado, é a melhor forma de não ser verdadeiramente amado, mas iludido. O amor verdadeiro se encanta com a essência, não com as máscaras e os papéis...

domingo, 21 de março de 2010

Mulheres que Amam Demais

Estava pesquisando sobre padrões de comportamento, e me vi no site do MADA (Mulheres que Amam Demais), e achei bem interessante a forma como elas lidam com esse padrão que há séculos e séculos e séculos, mantém à nós, mulheres, dependentes emocionalmente de homens que, geralmente, nos trazem sérios problemas emocionais e psicológicos. Lembro que conheci esse grupo de ajuda numa novela (não me lembro qual), que abordou o tema. Eu estava lendo alguma coisa no site e achei interessante o padrão, e fiquei pensando. Afinal, como esse padrão de comportamento se forma?

O que faz uma mulher interessante, inteligente, bem de vida, entrar em um padrão de comportamento tão profundamente humilhante e doentio? Por que elas perdem toda a noção de auto-respeito e se deixam imolar até a última gota de sua dignidade pessoal, e ainda chamam à isso de amor?

Há milhares de anos muitas mulheres se submetem à dependência emocional de homens que não as valorizam, tanto que das coisas que mais se vê no mundo são mulheres envolvidas com homens casados, ou mulheres sustentando homens perfeitamente aptos ao trabalho, ou mulheres se submetendo a todo tipo de humilhação física e psicológica com a violência doméstica, que mata mais mulheres que o infarto. É um padrão de comportamento triste, muito triste.

Qual é o limite do amor? Quando uma mulher pode saber se está dependente ou amando? Quando uma mulher pode saber se está sendo amada ou enganada? Como uma mulher pode saber o limite da sua dignidade e do seu auto-respeito?

No site tem um texto com as características das mulheres que amam demais, e que eu achei bem interessante. Agora a pergunta: qual de nós ainda não nos encaixamos em pelo menos um desses ítens?

CARACTERÍSTICAS DE UMA MULHER QUE AMA DEMAIS

Robin Norwood

   1. Vem de um lar desajustado, em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas.

   2. Como não recebeu um mínimo de atenção, tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes.

   3. Como não pode transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, reage fortemente ao tipo de homem familiar, porém inacessível, o qual tenta, transformar através de seu amor.

   4. Com medo de ser abandonada, faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento.

   5. Quase nada é problema, toma muito tempo ou mesmo custa demais, se for para "ajudar" o homem com quem esta envolvida.

   6. Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais.

   7. Está disposta a arcar com mais de 50% da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer relacionamento.

   8. Sua auto-estima está criticamente baixa, e no fundo não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita que deve conquistar o direito de desfrutar a vida.

   9. Como experimentou pouca segurança na infância, tem uma necessidade desesperadora de controlar seus homens e seus relacionamentos. Mascara seus esforços para controlar pessoas e situações, mostrando-se "prestativa".

  10. Esta muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser, do que com a realidade da situação.

  11. Tem tendência psicológica, e com freqüência, bioquímica a se tornar dependente de drogas, álcool e/ou certos tipos de alimento, principalmente doces.

  12. Ao ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, evita concentrar a responsabilidade em si própria.

  13. Tende a ter momentos de depressão, e tenta previní-los através da agitação criada por um relacionamento instável.

  14. Não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados nela. Acha que esses homens "agradáveis" são enfadonhos.

sábado, 20 de março de 2010

Autenticidade

Às vezes fico observando o quanto é difícil ser simplesmente autêntico no mundo de hoje. Há sempre alguém em quem nos espelhamos, ou até em modelos e padrões de comportamento social. É a moda, a arte, a religião, a profissão, os estigmas de diversas vertentes. O fato é que fica cada dia mais difícil sermos apenas nós mesmos. Quem somos nesse emaranhado de padrões e modelos? Por que temos tanta necessidade de nos padronizar? Por que hoje temos um padrão e amanhã temos outro? Somos nós que mudamos constantemente, ou é a nossa inconsciente busca por nós mesmos?

Por que nós sismamos em seguir padrões? Por que teimamos em estarmos sempre inseridos em algum modelo social? Por que, para nos sentirmos aceitos, temos que vestir as roupas da moda, ouvir as músicas que estão no top parede, adorar o artista mais famoso do momento ou até escolher profissões porque elas estão no top do mercado?

Por que nós nos perdemos tanto, tentando nos encaixar no mundo, quando é o mundo que tem que se adaptar à nós? Como encontraremos nossos verdadeiros afins? Como sairemos dos laços de amizade ou amor tão efêmeros quanto todos os modelos que buscamos para nos encaixar?

Mas acima de tudo isso, como somos espiritualmente? E se nos despirmos de todo imediatismo efêmero da matéria, o que sobra de nós?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Encontro Auto-pessoal

Como nos redescobrimos e nos reinventamos? Como resgatamos dos lugares mais profundos de nosso ser, aqueles desejos, sonhos, preferências e dons que temos e que fazem com que sejamos únicos? Quando passamos muito tempo sofrendo a influência de algo ou alguém, como nos desnudarmos para descobrirmos quem realmente somos?

Como quando temos uma religião por muitas vidas... Como fazemos, um dia, para nos desvincularmos dessa religião, e conhecermos o que somos, como somos e sentirmos a nossa religiosidade da forma mais pura e pessoal? E quando isso extende-se à todo nosso ser?

Como conseguimos deixar de ser o que pensamos ser, para descobrirmos o que realmente somos? Como nos encontramos com nossa essência e deixamos de ser "como nossos pais"?

É essa a minha primeira grande pergunta da minha nova jornada rumo à mim...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Fiat Lux!

Num dia no Infinito da Criação, foi minha vez de receber de Deus o "Fiat Lux"... O que eu era quando isso aconteceu? Diria o Espiritismo que eu era um Espírito Simples e Ignorante. Passaram-se as eras e me dou conta que continuo sendo um Espírito Simples e Ignorante. Na complexida que é a vida, as vivências, as incontáveis eras que nos separam do nosso momento na Criação, tudo acaba se convergendo na necessidade primeira de redescobrir-se na nossa mais simples expressão, conscientes da nossa ignorância perante quem pensamos ser, mas não somos.

E quem somos? Como éramos no nosso "Fiat Lux"? Com que essência fomos moldados? Como somos despidos de toda mentira que alimentamos e acumulamos ao longo da nossa existência espiritual? Como resgatarmo-nos de dentro de nós, naquele lugar onde tudo começou...?