"Amizade que acaba é porque nunca começou". (Mario Sérgio Cortella)
Essa frase pequena e singela diz uma verdade ampla e profunda. Ao longo da nossa vida nós vemos passar muitas pessoas, e a maioria delas em determinado ponto da nossa caminhada se tornam "amigas". Tão amigas que até passamos a conviver com ela diarimente, a confidenciar nossas coisas, a pedir conselhos e tudo o mais.
Mas eis que um dia há um problema qualquer e a amizade acaba. Acaba mesmo, de tal forma que a pessoa não faz nenhuma falta, e até achamos muito melhor que ela não faça mais parte da nossa vida. A pessoas realmente passou e não deixou boas lembranças... É então que paramos para pensar: será que algum dia houve mesmo uma amizade? Como não, se haviam altas conversas, risos e muitas coisas que caracterizam uma amizade?
Como pode uma amizade ter todo o jeito de amizade e no fim percebermos que nunca houve de fato amizade, apenas o que podemos chamar de coleguismo? É quando podemos aprofundar na frase de Mário Sérgio Cortella e refletirmos que se acabou é porque nunca começou...
O que caracteriza a amizade não são os risos, as conversas ou as confidências, mas o *afeto*. Aquele afeto especial que nos faz amar acima dos risos ou choros, das conversas ou do silêncio, das confidências ou dos segredos. Aquele afeto que existe indubitavalmente, independente da pessoa ser boa ou má companhia num determinado dia, dela estar feliz ou triste e até dela estar do seu lado ou contra você.
A verdadeira amizade não acaba porque o afeto verdadeiro não é algo que pode ser apagado da nossa alma, não é algo que exige recompensas ou que reflita qualquer tipo de interesse de nossa parte. O afeto apenas existe e só. O tempo e a distância não apagam a chama, não modificam os sentimentos e a pessoa continua existindo na nossa vida e no nosso coração mesmo sem estar presente, mesmo sem contato algum. Como diz o antropólogo Magnani: "Na amizade sólida o tempo é uma contingência. Não afasta, apenas adia". Podemos passar anos a fio sem até notícias de um amigo, mas quando o reencontramos é como se nenhum dia houvesse passado, apesar das novidades que certamente ter-se-á para partilharem.
Se tínhamos uma super amizade com alguém que podemos até ter acreditado ser o supra-sumo dos amigos e um dia essa amizade acabou sem deixar rastros de afeto, saudade ou boas lembranças, é porque essa amizade jamais existiu. Um amigo nunca deixa de ser amigo. Uma amizade nunca deixa existir. Um problema, por maior que seja, nunca apaga um verdadeiro afeto. Um amigo, por mais defeitos humanos que tenha, nunca trai, abandona, calunia, age como se você fosse um estorvo ou pensa de você o que ninguém pensaria. Amigo algum, por pior que ele seja, deixa de ter as características básicas de um amigo: lealdade, confiança, sensibilidade e constância, mesmo na distância do tempo e do espaço.
A verdadeira amizade pode sofrer abalos sísmicos até gravíssimos, mas nunca será destruída... Se os abalos a destruírem, é porque ela era apenas ilusão...
terça-feira, 22 de março de 2011
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Amizade X Mentira
Muitos de nós (e aqui me incluo) temos a mania de "deixarmos passar" muitas coisas que não se pode deixar passar nas relações, e que aos poucos vão minando a vida, as próprias relações e as situações. A mentira e a falsidade são uma dessas coisas que, se deixamos passar, ela vira uma bola de neve sem fim, até que chegamos ao ponto de não sabermos mais como reencontrar o caminho da verdade.
Um amigo mentiroso, por exemplo. Sabemos que a pessoa é mentirosa, já a vimos mentir muitas vezes sem necessidade, mas deixamos passar porque afinal, para nós ela jura que sempre diz a verdade. E além disso, quem somos nós para condenarmos os outros, se nós também temos os nossos defeitos? E nisso seguimos "relevando". Mas é muita ingenuidade nossa achar que uma pessoa que tem a mentira como opção para a verdade, ou seja, que pode dizer a verdade sem problema algum, e mesmo assim opta em dizer uma mentira, jamais vá nos mentir. Um dia, sem sombra de dúvidas, vamos descobrir as mentiras que ela nos contou. E obviamente, como consequência natural, não temos como continuar confiando indefinidamente. A mentira gratuita é um comportamento doentio, que deve ser tratado, e que impossibilita a pessoa de ter amigos de verdade, simplesmente porque não tem como construir uma amizade verdadeira sem confiança.
Mas aí que entra nosso problema em "deixar passar". Mesmo descobrindo as mentiras, pegando a falsidade no flagra, e com muitas mentiras desmascaradas, nós "deixamos passar", seja por piedade, seja para perdoar, seja para dar mais uma chance para a verdade, enfim, por diversos motivos, vamos deixando passar, e enquanto isso a pessoa continua indefinidamente nos mentindo sem parar, nas coisas mais triviais e desnecessárias (e quem sabe nas coisas grandes também?). E se ameaçamos contar que sabemos que ela mente, que não somos tão ingênuos como ela contou que fôssemos, que em silêncio desvendamos suas mentiras, a pessoa se sente profundamente ofendida, e num outro mecanismo doentio de manipulação, fuga e projeção, tenta inverter o jogo, nos agredindo e acusando de não sermos amigos de verdade, e muitas vezes tenta nos fazer sentir culpados por termos desconfiado dela e de sua "amizade". E mesmo se apresentamos as provas, ela se justifica e mente ainda mais para sustentar a "necessidade" de nos ter enganado descaradamente, tentando, de uma forma ou de outra, se sair de vítima, ou quem sabe, de "nobre mentirosa".
Para mim, pessoalmente, se existe algo pior que a mentira, é uma pessoa fazer o mal e dizer que o fez por nobres motivos. Que se tenha pelo menos a dignidade de assumir que errou, mesmo que não queira pedir perdão ou coisa do tipo. Se pode ser "nobre" para mentir, pode ser *verdadeiramente nobre* para assumir os erros. De qualquer forma, a nobreza de caráter exclui automaticamente atitudes conscientemente más do comportamento de uma pessoa (ninguém mente por ignorância ética - só quem não assimila nem a ética mais básica, ou seja, os psicopatas - ou inconscientemente - sempre tem como saber que se está mentindo. No máximo mente-se gratuitamente por impulso, mas aí pode-se admitir que errou). Atitudes conscientemente erradas e nobreza de caráter são auto-excludentes. Uma pessoa nobre encontra soluções nobres. Simples assim. O que caracteriza uma pessoa nobre é justamente sua capacidade de sofrer ou suportar privações para manter intactos seus princípios éticos e morais. Ou seja, uma pessoa nobre prefere ser despedida à mentir para o chefe, por exemplo. Existem poucos nobres nesse mundo, e um mentiroso que tenta se passar de nobre justificando e mascarando sua mentira como correta, ainda tem muito que aprender sobre ética e nobreza. A mentira não tem nada de nobre, menos ainda entre amigos.
E nós? Quanto mais percebemos o quão doente ela é, mais temos compaixão, oramos por ela, ficamos com aquele sentimento de impotência, de querer ajudar sem saber como, e **continuamos**. Até que um dia nós olhamos para a pessoa e vemos apenas a face da mentira. O que nela é verdadeiro? Não sabemos mais. Não sabemos mais quem ela é, ou até se um dia realmente a conhecemos. Não sabemos mais se o que ela diz, por mais simples que seja, é verdade ou mais uma mentira. Não sabemos mais nem mesmo, por exemplo, se ela pintou as unhas de vermelho, como ela diz. Precisamos que ela nos mostre para termos certeza. Precisamos olhar o "esmalte vermelho" nas mãos dela para *vermos com nossos próprios olhos* que ela está dizendo a verdade. Que amizade é essa que não pode ter a confiança como alicerce nem mesmo nas coisas mais simples e banais da vida?
E então olhamos para trás e nos perguntamos: será que algum dia ela disse a verdade sobre alguma coisa? De tudo que ela disse durante todo esse tempo, o que era verdade e o que era mentira? Se quando ela jurava que nunca nos mentia, e que aos outros só mentia em situações extremas, mas que nós sempre recebíamos dela apenas a verdade, e então descobrimos que tudo isso (e até isso) era mentira, como saberemos se existe alguma verdade em tudo que ela nos disse ao longo da amizade, que muitas vezes pode ter durado anos? Não temos mais como saber... Não temos mais como saber o tamanho da bola de neve que está à nossa frente, nem o tamanho do trajeto que ela percorreu, porque a única pessoa que poderia nos dar essa certeza, nos guiar para a verdade, não raras vezes é a própria pessoa mentirosa, cuja palavra não vale mais nada sob nossos olhos.
A única saída numa situação assim é cortar relações, por mais que gostemos da pessoa. O que mais poderíamos fazer? Não digo brigar, mas fechar para ela as portas do nosso mundo, da nossa vida, da nossa amizade. Não tem como construir uma relação (seja ela qual for) sozinhos. Se uma das partes não coloca material de base para essa construção, um dia ela desmorona, não tem jeito. E para reconstruir sob os escombros demora muito mais tempo, porque primeiro é necessário retirar os escombros, que são pesados e que podem machucar, para depois começar a reconstruir. Só que é um investimento que requer materiais ainda mais nobres que o da construção, como o perdão, a disposição emocional, a paciência, a verdade plena, o tempo e sobretudo, um amor verdadeiro.
O problema que o mentiroso deve entender é que ainda é difícil encontrar na terra quem tenha todas essas virtudes à disposição daqueles que nos enganaram, nos foram falsos e mentiram para nós até quando nos juravam veracidade sob a égide de uma amizade à qual confiávamos de todo coração. E o indivíduo que passa pela situação de se ver diante de um mentiroso que lamenta a perda de sua amizade, não deve se martirizar por não ser ainda um santo, por não estar disposto a ser canonizado, reconstruindo uma amizade que no fundo nunca foi amizade. De qualquer forma o mentiroso que age assim com seus amigos deve se tratar, se realmente deseja, um dia, ter uma amizade verdadeira com quem quer que seja. Sem curar o seu caráter, só irá sofrer e fazer sofrer.
Um amigo mentiroso, por exemplo. Sabemos que a pessoa é mentirosa, já a vimos mentir muitas vezes sem necessidade, mas deixamos passar porque afinal, para nós ela jura que sempre diz a verdade. E além disso, quem somos nós para condenarmos os outros, se nós também temos os nossos defeitos? E nisso seguimos "relevando". Mas é muita ingenuidade nossa achar que uma pessoa que tem a mentira como opção para a verdade, ou seja, que pode dizer a verdade sem problema algum, e mesmo assim opta em dizer uma mentira, jamais vá nos mentir. Um dia, sem sombra de dúvidas, vamos descobrir as mentiras que ela nos contou. E obviamente, como consequência natural, não temos como continuar confiando indefinidamente. A mentira gratuita é um comportamento doentio, que deve ser tratado, e que impossibilita a pessoa de ter amigos de verdade, simplesmente porque não tem como construir uma amizade verdadeira sem confiança.
Mas aí que entra nosso problema em "deixar passar". Mesmo descobrindo as mentiras, pegando a falsidade no flagra, e com muitas mentiras desmascaradas, nós "deixamos passar", seja por piedade, seja para perdoar, seja para dar mais uma chance para a verdade, enfim, por diversos motivos, vamos deixando passar, e enquanto isso a pessoa continua indefinidamente nos mentindo sem parar, nas coisas mais triviais e desnecessárias (e quem sabe nas coisas grandes também?). E se ameaçamos contar que sabemos que ela mente, que não somos tão ingênuos como ela contou que fôssemos, que em silêncio desvendamos suas mentiras, a pessoa se sente profundamente ofendida, e num outro mecanismo doentio de manipulação, fuga e projeção, tenta inverter o jogo, nos agredindo e acusando de não sermos amigos de verdade, e muitas vezes tenta nos fazer sentir culpados por termos desconfiado dela e de sua "amizade". E mesmo se apresentamos as provas, ela se justifica e mente ainda mais para sustentar a "necessidade" de nos ter enganado descaradamente, tentando, de uma forma ou de outra, se sair de vítima, ou quem sabe, de "nobre mentirosa".
Para mim, pessoalmente, se existe algo pior que a mentira, é uma pessoa fazer o mal e dizer que o fez por nobres motivos. Que se tenha pelo menos a dignidade de assumir que errou, mesmo que não queira pedir perdão ou coisa do tipo. Se pode ser "nobre" para mentir, pode ser *verdadeiramente nobre* para assumir os erros. De qualquer forma, a nobreza de caráter exclui automaticamente atitudes conscientemente más do comportamento de uma pessoa (ninguém mente por ignorância ética - só quem não assimila nem a ética mais básica, ou seja, os psicopatas - ou inconscientemente - sempre tem como saber que se está mentindo. No máximo mente-se gratuitamente por impulso, mas aí pode-se admitir que errou). Atitudes conscientemente erradas e nobreza de caráter são auto-excludentes. Uma pessoa nobre encontra soluções nobres. Simples assim. O que caracteriza uma pessoa nobre é justamente sua capacidade de sofrer ou suportar privações para manter intactos seus princípios éticos e morais. Ou seja, uma pessoa nobre prefere ser despedida à mentir para o chefe, por exemplo. Existem poucos nobres nesse mundo, e um mentiroso que tenta se passar de nobre justificando e mascarando sua mentira como correta, ainda tem muito que aprender sobre ética e nobreza. A mentira não tem nada de nobre, menos ainda entre amigos.
E nós? Quanto mais percebemos o quão doente ela é, mais temos compaixão, oramos por ela, ficamos com aquele sentimento de impotência, de querer ajudar sem saber como, e **continuamos**. Até que um dia nós olhamos para a pessoa e vemos apenas a face da mentira. O que nela é verdadeiro? Não sabemos mais. Não sabemos mais quem ela é, ou até se um dia realmente a conhecemos. Não sabemos mais se o que ela diz, por mais simples que seja, é verdade ou mais uma mentira. Não sabemos mais nem mesmo, por exemplo, se ela pintou as unhas de vermelho, como ela diz. Precisamos que ela nos mostre para termos certeza. Precisamos olhar o "esmalte vermelho" nas mãos dela para *vermos com nossos próprios olhos* que ela está dizendo a verdade. Que amizade é essa que não pode ter a confiança como alicerce nem mesmo nas coisas mais simples e banais da vida?
E então olhamos para trás e nos perguntamos: será que algum dia ela disse a verdade sobre alguma coisa? De tudo que ela disse durante todo esse tempo, o que era verdade e o que era mentira? Se quando ela jurava que nunca nos mentia, e que aos outros só mentia em situações extremas, mas que nós sempre recebíamos dela apenas a verdade, e então descobrimos que tudo isso (e até isso) era mentira, como saberemos se existe alguma verdade em tudo que ela nos disse ao longo da amizade, que muitas vezes pode ter durado anos? Não temos mais como saber... Não temos mais como saber o tamanho da bola de neve que está à nossa frente, nem o tamanho do trajeto que ela percorreu, porque a única pessoa que poderia nos dar essa certeza, nos guiar para a verdade, não raras vezes é a própria pessoa mentirosa, cuja palavra não vale mais nada sob nossos olhos.
A única saída numa situação assim é cortar relações, por mais que gostemos da pessoa. O que mais poderíamos fazer? Não digo brigar, mas fechar para ela as portas do nosso mundo, da nossa vida, da nossa amizade. Não tem como construir uma relação (seja ela qual for) sozinhos. Se uma das partes não coloca material de base para essa construção, um dia ela desmorona, não tem jeito. E para reconstruir sob os escombros demora muito mais tempo, porque primeiro é necessário retirar os escombros, que são pesados e que podem machucar, para depois começar a reconstruir. Só que é um investimento que requer materiais ainda mais nobres que o da construção, como o perdão, a disposição emocional, a paciência, a verdade plena, o tempo e sobretudo, um amor verdadeiro.
O problema que o mentiroso deve entender é que ainda é difícil encontrar na terra quem tenha todas essas virtudes à disposição daqueles que nos enganaram, nos foram falsos e mentiram para nós até quando nos juravam veracidade sob a égide de uma amizade à qual confiávamos de todo coração. E o indivíduo que passa pela situação de se ver diante de um mentiroso que lamenta a perda de sua amizade, não deve se martirizar por não ser ainda um santo, por não estar disposto a ser canonizado, reconstruindo uma amizade que no fundo nunca foi amizade. De qualquer forma o mentiroso que age assim com seus amigos deve se tratar, se realmente deseja, um dia, ter uma amizade verdadeira com quem quer que seja. Sem curar o seu caráter, só irá sofrer e fazer sofrer.
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domingo, 12 de dezembro de 2010
Desatando Ilusões
Na maioria das vezes vivenciamos relacionamentos problemáticos e até doentios porque ficamos receosos de tomar uma atitude definitiva. Quando se trata de relacionamentos conjugais, passam-se anos e anos até que um dos cônjuges, ou até os dois, tomem a decisão necessária e saudável da separação definitiva. Quando se trata de amizades, podem-se passar anos à fio igualmente insistindo numa amizade que nada trás de construtivo, prazeroso e até fraternal à ambas as partes. As coisas acontecem, os anos passam e fica-se "perdoando", "perdoando", "perdoando", quando no fundo a sujeira está é sendo colocada embaixo do tapete, que cada vez fica mais sujo.
Um dia, como sempre acontece, essa sujeira sai... Um vendaval mais forte levanta ele do solo e toda sujeira é exposta. Nesse dia é praticamente inevitável um afastamento, até para que as partes possam ter tempo de limpar verdadeiramente o ambiente e quem sabe, um dia, voltarem a se encontrar naquele local, ainda que não continuem os mesmos vínculos de outrora. Algumas mágoas, por serem realmente profundas, precisam ser incineradas e muito bem desinfetadas, jamais abafadas ou engolidas, para que não nos dê intoxicações que possam resultar em cânceres de difícil cura na alma.
Há relacionamentos que se tornam tumores que precisamos extirpar, para que nossa alma possa ser limpa e curada. É uma situação muito difícil para quem, por necessidade ou até convicção religiosa, deseja "perdoar" (só convencionalmente, porque na verdade remói no fundo do coração uma mágoa secreta e inconfessável) e sofrer todas as dores do câncer até que ele leve à morte por metástese. Quando há perdão verdadeiro a alma se auto-cura e a relação, se não é para ser, extingue-se sem trazer qualquer dano psíquico. A ilusão acaba e o desenlace se faz naturalmente. Quando há apenas o aparente perdão a relação continua, mesmo quando não é para ser, trazendo imensos prejuízos emocionais e psíquicos, pois que é quase impossível conviver com um desafeto como se ele fosse um afeto e não se adoecer no processo.
Ou é afeto ou é desafeto, não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo. E o primeiro passo da cura é assumir para si mesmo e para Deus o que aquele irmão é no nosso coração. É desafeto? Então não ofereça à ele as flores sublimes da afeição que só os afetos podem receber sem as macular ou destruir. Nossa afeição sincera é uma flor muito delicada que entregamos nas mãos daqueles cultivadores que as regarão, cuidarão e a deixarão mais lindas. Não podemos dar essas flores para os desafetos, porque são delicadas demais, imprescindíveis demais para a harmonia e equilíbrio de nosso Jardim Íntimo.
Não podemos fingir para nós mesmos que um desafeto é um afeto, esteja ele em que posição for na nossa vida (marido, mãe, pai, irmão, amigo, etc). Temos que, antes de tudo, colocá-lo no devido lugar, para depois, com trabalho, cuidado e paciência, conduzí-lo pouco à pouco ao posto de afeto, se for esse o desejo de ambas as partes. Somos todos irmãos, acima de tudo. Mas não podemos fingir que nossa fraternidade é perfeita como são as dos anjos. Temos desafios imensos, e assumirmos isso é o caminho para a maturidade e para as conquistas afetivas eternas e construtivas.
Somos humanos, acima de tudo. Fadados à pureza espiritual, mas até que cheguemos nesse patamar, muitos desafios enfrentaremos com nossos escolhos pessoais. Muitos caminhos de espinhos caminharemos, e muitas dificuldades enfrentaremos dentro de nosso próprio coração. Ora teremos afetos, ora teremos desafetos, é inevitável. Nossa busca incessante não é para jamais termos um desafeto, mas para que, tendo algum, busquemos transformá-lo em afeto no tempo do nosso coração. Deus é paciente, não nos obriga a amar todos os nossos irmãos, apenas diz que um dia essa será nossa realidade, e que se permitirmos, Ele nos ajudará à chegarmos no fim desse caminho... Mas nunca nos obriga a sentirmos o que nosso coração não consegue sentir naturalmente. Ele nos conduz aos caminhos, nunca nos obriga a caminhar por eles com pressa, sob pena de perder Sua condução. Somos nós que nos impomos a perfeição antes do tempo, jamais Deus faz isso conosco.
Ele sempre nos dá tempo para que, naturalmente, por desejo e necessidade sinceras de nossa alma, caminhemos pelos caminhos que Ele nos traçou. À nós cabe o compromisso firme e incessante de jamais desviarmos desses caminhos e sobretudo, das mãos do Condutor...
Um dia, como sempre acontece, essa sujeira sai... Um vendaval mais forte levanta ele do solo e toda sujeira é exposta. Nesse dia é praticamente inevitável um afastamento, até para que as partes possam ter tempo de limpar verdadeiramente o ambiente e quem sabe, um dia, voltarem a se encontrar naquele local, ainda que não continuem os mesmos vínculos de outrora. Algumas mágoas, por serem realmente profundas, precisam ser incineradas e muito bem desinfetadas, jamais abafadas ou engolidas, para que não nos dê intoxicações que possam resultar em cânceres de difícil cura na alma.
Há relacionamentos que se tornam tumores que precisamos extirpar, para que nossa alma possa ser limpa e curada. É uma situação muito difícil para quem, por necessidade ou até convicção religiosa, deseja "perdoar" (só convencionalmente, porque na verdade remói no fundo do coração uma mágoa secreta e inconfessável) e sofrer todas as dores do câncer até que ele leve à morte por metástese. Quando há perdão verdadeiro a alma se auto-cura e a relação, se não é para ser, extingue-se sem trazer qualquer dano psíquico. A ilusão acaba e o desenlace se faz naturalmente. Quando há apenas o aparente perdão a relação continua, mesmo quando não é para ser, trazendo imensos prejuízos emocionais e psíquicos, pois que é quase impossível conviver com um desafeto como se ele fosse um afeto e não se adoecer no processo.
Ou é afeto ou é desafeto, não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo. E o primeiro passo da cura é assumir para si mesmo e para Deus o que aquele irmão é no nosso coração. É desafeto? Então não ofereça à ele as flores sublimes da afeição que só os afetos podem receber sem as macular ou destruir. Nossa afeição sincera é uma flor muito delicada que entregamos nas mãos daqueles cultivadores que as regarão, cuidarão e a deixarão mais lindas. Não podemos dar essas flores para os desafetos, porque são delicadas demais, imprescindíveis demais para a harmonia e equilíbrio de nosso Jardim Íntimo.
Não podemos fingir para nós mesmos que um desafeto é um afeto, esteja ele em que posição for na nossa vida (marido, mãe, pai, irmão, amigo, etc). Temos que, antes de tudo, colocá-lo no devido lugar, para depois, com trabalho, cuidado e paciência, conduzí-lo pouco à pouco ao posto de afeto, se for esse o desejo de ambas as partes. Somos todos irmãos, acima de tudo. Mas não podemos fingir que nossa fraternidade é perfeita como são as dos anjos. Temos desafios imensos, e assumirmos isso é o caminho para a maturidade e para as conquistas afetivas eternas e construtivas.
Somos humanos, acima de tudo. Fadados à pureza espiritual, mas até que cheguemos nesse patamar, muitos desafios enfrentaremos com nossos escolhos pessoais. Muitos caminhos de espinhos caminharemos, e muitas dificuldades enfrentaremos dentro de nosso próprio coração. Ora teremos afetos, ora teremos desafetos, é inevitável. Nossa busca incessante não é para jamais termos um desafeto, mas para que, tendo algum, busquemos transformá-lo em afeto no tempo do nosso coração. Deus é paciente, não nos obriga a amar todos os nossos irmãos, apenas diz que um dia essa será nossa realidade, e que se permitirmos, Ele nos ajudará à chegarmos no fim desse caminho... Mas nunca nos obriga a sentirmos o que nosso coração não consegue sentir naturalmente. Ele nos conduz aos caminhos, nunca nos obriga a caminhar por eles com pressa, sob pena de perder Sua condução. Somos nós que nos impomos a perfeição antes do tempo, jamais Deus faz isso conosco.
Ele sempre nos dá tempo para que, naturalmente, por desejo e necessidade sinceras de nossa alma, caminhemos pelos caminhos que Ele nos traçou. À nós cabe o compromisso firme e incessante de jamais desviarmos desses caminhos e sobretudo, das mãos do Condutor...
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domingo, 10 de outubro de 2010
Tábuas de Salvação
A expressão "Tábua de Salvação" é usada para designar muitas situações, mas sobretudo aquelas que dizem respeito à questões religiosas. Queria hoje usá-la para designar pessoas. Sim, isso mesmo, pessoas. Mas então pessoas podem ser a "tábua de salvação" de alguém? Não deveriam ser, posto que nós somos dotados de potencialidades e capacidades que nos faz termos condições de salvarmos à nós mesmos, sem dependermos de outros. É claro que muitos ajudam-se mutuamente, e isso é das coisas mais grandiosas e divinas do convívio humano. A ajuda mútua, a verdadeira fraternidade. Mas isso não é tábua de salvação, já que receber ajuda num momento de dificuldade não designa ninguém a não ser capaz de ajudar à si mesma.
As "tábuas de salvação" à que me refiro são aquelas que elegemos como "as únicas" que podem dar equilíbrio à nossa vida. Sem elas, portanto, nada somos, ou nada conseguiremos, ou pior, nada mais nos restará à não ser a dificuldade e a desventura. Como gosto sempre, queria exemplificar essa situação com os relacionamentos, porque são eles, em muitos casos, a mola propulsora das nossas escolhas, decisões e até sacrifícios pessoais.
Particularmente eu fico muito triste quando vejo alguém depositar em outra, o único motivo de sua luta por melhoria, ou de sua plenitude íntima, abrindo mão totalmente de si mesmo (como individualidade e não enquanto ego) para "ser melhor" para o objeto de sua devoção. Esse "ser melhor", naturalmente inclui ser do jeito que o outro queria, e não do jeito que ela própria se sentiria tão feliz, mas tão feliz consigo mesma, que lutaria sempre e mais por si mesma, não por outra pessoa. Por isso penso o seguinte: quando alguém ama-se por causa de outro, e não por causa de si mesmo, tem alguma coisa errada com esse auto-amor. O auto-amor inclui, indubitavelmente, a satisfação conosco mesmos, por quem somos, pela divindade que existe em nós, e não pelo que gostaríamos de ser para sermos melhores para determinada pessoa. Isso não é auto-amor, é anulação. Um pseudo-altruísmo, que cedo ou tarde, ruirá, ou deixará a pessoa tão perdida dela mesma, que lembrará de si mesma não como "Maria", mas como "mãe do Joãozinho", "esposa do José", "filha do Manuel". Ela será tanto dos outros, ela terá "melhorado" tanto pelos outros, terá vivido tanto em função de ser melhor para os outros, que não lembrará mais do seu próprio nome.
Aí que entram as tábuas de salvação. Quando uma pessoa chega a tal estágio de esquecimento de si, ela naturalmente fica desorientada, e obviamente sem saber como fazer para sair de uma situação que a atormenta, mas que ela nem tem coragem de olhar-se para identificar de onde vem tanta inquitude íntima, ela acaba por simplesmente reagir, ficando com o equilíbrio "emocional-racional" descompensado. Ou fica um vulcão emocional de difícil convivência, tendo muita dificuldade para racionalizar e refletir sobre as situações que vive. Ou então fica tão racional, que até seus gestos de amor são contabilizados, racionalizados, medidos e claro, matematicamente "corretos". E não raras vezes reage violentamente, seja machucando-se ou machucando outros, com atitudes extremamente impulsivas ou friamente calculadas. Nesse estágio ela pode ver-se numa situação tão desesperadora, que olha em torno de si e tudo que desejaria era fugir dalí e nunca mais voltar. Mas então ao mesmo tempo ela vê-se sem saber como viver sem aquela situação ou sem aquela pessoa, porque eles e não ela, são sua referência máxima, o alicerce de todas as suas ações.
Ela só aprendeu a viver por aquelas pessoas, por aquela situação, por aquela causa. Ela não sabe mais viver por si mesma, e amar como extensão e consequência do seu próprio auto-amor. Então maridos difíceis, por exemplo, que mais que notadamente não a amam, só desrespeitam e a tiranizam, são suas tábuas de salvação. Embora elas saibam e até consigam dizer para algumas pessoas mais chegadas, que não amam mais o marido, ou que eles são tudo que elas não sonharam num homem, ou até mais, que eles só prestam mesmo como pais, nunca como esposos, elas não conseguem assumir isso para si mesmas, e passam dia após dia, fingindo para si mesmas que os amam e que sem eles não sabem viver. Claro que não sabem viver. Elas não sabe viver sozinhas, não sabem serem felizes por si mesmas, não sabem simplesmente existir e dar graças por isso. Esses maridos, ou filhos (há mães que se desesperam quando os filhos decidem se casar), ou mães e pais, passam a ser suas tábuas de salvação.
Enfrentam o sofrimento que for para não perderem essas pessoas, para agradarem essas pessoas, para que elas jamais decidam ir embora. Fazem o que for para fingirem para si mesmas, e até para essas pessoas, que as amam e as querem por perto. Se elas se mostram insatisfeitas ou ameaçam partir, a vida dessas pessoas ameaça acabar, e elas podem até preferir suicidarem-se a viver com a possibilidade de terem uma vida sem suas tábuas de salvação. Então nós vemos a contradição em muitos dos discursos dessas pessoas. Nos momentos em que a suas tábuas estão alí seguras em suas mãos, elas se sentem livres para dizerem que não suportam mais viver com aquelas pessoas, que sequer têm interesse em investir mais no relacionamento, que estão alí porque elas tem isso ou aquilo de bom, embora não tenham nada de bom no papel de que lhes cabe, ou porque pensa nos filhos, porque é mais cômodo, e chega ao ponto de se interessarem por outras pessoas e terem casos extra-conjugais. Mas é só surgir a ameaça de rompimento, ou um afastamento imposto pela vida, que essas mesmas pessoas ressurgem entre lágrimas, desespero e dor, dizendo o quanto a sua tábua é o seu grande amor, a pessoa mais importante do seu mundo, o quando ela é incompleta sem a sua presença e por aí até as mais arrebatadas declarações de amor incondicional.
Sim, isso mesmo, amor incondicional, que muitos confundem com amar sem ser amado. Amar incondicionalmente quer dizer amar sem restrições, amar sem condições, amar pura e simplesmente por amar, por nada mais. Não quer dizer amar sem ser amado. Essa é uma das características do amor incondicional, não seu significado. Agora caiamos na real: que mulher normal desse mundo (exclui-se as almas angelicais que volta e meia caem na Terra) amaria um homem sem desejar ser amada também? Que mulher romântica e normal nesse mundo, por exemplo, acharia que o amor de sua vida, é um homem que não seja capaz de lhe dizer nem mesmo um "eu te amo", que não seja capaz de lhe dar nem o menor e mais simplório gesto de romantismo? Sejamos francas: nenhuma! Mulher alguma, que seja minimamente bem-resolvida e romântica, e não seja uma alma verdadeiramente elevada e desprendida de um amor mundano, diria que um homem com esse perfil é o seu grande amor. Muito provavelmente ele é sua tábua de salvação, não o homem de seus sonhos. Se ela diz isso é porque está doentiamente se enganando e enganando o outro, não porque elevou-se à patamares realmente evoluídos de amor romântico incondicional, capazes de amar por esse prisma sem serem minimamente correspondidas em seus anseios de mulher. O mais notável é que essas pessoas continuam sendo egoístas, orgulhosas, cheias de falhas, como todos os seres-humanos normais aqui da Terra, mas só no amor romântico (ou filial, ou maternal) demonstram uma tamanha evolução espiritual, com um desprendimento e altruísmo capaz de deixar os anjos com inveja! Infelizmente não é evolução espiritual, mas as mais tristes e dolorosas máscaras...
Mas é claro que ele pode ser o homem dos sonhos de outras mulheres, mas não o de uma mulher que tem em seus anseios femininos mais secretos e doces, o romantismo do homem amado. Essa mulher, se diz para um homem com esse perfil, que ele é seu grande amor, sem dúvidas se apagou tanto, mas tanto, que está tentando ser a parceira ideal dele, abrindo mão de seus anseios femininos, negando-se enquanto mulher, para se tornar os anseios masculinos dele. Provavelmente ela terá sua tábua de salvação sempre ao lado dela, mas há que preço!
É muito, muito triste ver isso, ver uma pessoa, no papel que for, esquecer-se tanto de si mesma, que tenha a necessidade constante e perene de encaixar-se num lugar onde ela não cabe, ao mesmo tempo que tenta encaixar uma pessoa num lugar onde ela também não cabe, só para não ter que olhar verdadeiramente para si mesma, abrir mão de sua tábua de salvação (seria um ato não só de auto-respeito, mas de respeito ao outro, porque é muito humilhante ter alguém que nos ame porque somos suas tábuas de salvação) para aprender a andar sozinha, e então sim, conseguir saber "com quem ela deve andar" para viver uma vida de verdadeira partilha, de verdadeira utilidade, e sobretudo com as mãos verdadeiramente unidas.
As "tábuas de salvação" à que me refiro são aquelas que elegemos como "as únicas" que podem dar equilíbrio à nossa vida. Sem elas, portanto, nada somos, ou nada conseguiremos, ou pior, nada mais nos restará à não ser a dificuldade e a desventura. Como gosto sempre, queria exemplificar essa situação com os relacionamentos, porque são eles, em muitos casos, a mola propulsora das nossas escolhas, decisões e até sacrifícios pessoais.
Particularmente eu fico muito triste quando vejo alguém depositar em outra, o único motivo de sua luta por melhoria, ou de sua plenitude íntima, abrindo mão totalmente de si mesmo (como individualidade e não enquanto ego) para "ser melhor" para o objeto de sua devoção. Esse "ser melhor", naturalmente inclui ser do jeito que o outro queria, e não do jeito que ela própria se sentiria tão feliz, mas tão feliz consigo mesma, que lutaria sempre e mais por si mesma, não por outra pessoa. Por isso penso o seguinte: quando alguém ama-se por causa de outro, e não por causa de si mesmo, tem alguma coisa errada com esse auto-amor. O auto-amor inclui, indubitavelmente, a satisfação conosco mesmos, por quem somos, pela divindade que existe em nós, e não pelo que gostaríamos de ser para sermos melhores para determinada pessoa. Isso não é auto-amor, é anulação. Um pseudo-altruísmo, que cedo ou tarde, ruirá, ou deixará a pessoa tão perdida dela mesma, que lembrará de si mesma não como "Maria", mas como "mãe do Joãozinho", "esposa do José", "filha do Manuel". Ela será tanto dos outros, ela terá "melhorado" tanto pelos outros, terá vivido tanto em função de ser melhor para os outros, que não lembrará mais do seu próprio nome.
Aí que entram as tábuas de salvação. Quando uma pessoa chega a tal estágio de esquecimento de si, ela naturalmente fica desorientada, e obviamente sem saber como fazer para sair de uma situação que a atormenta, mas que ela nem tem coragem de olhar-se para identificar de onde vem tanta inquitude íntima, ela acaba por simplesmente reagir, ficando com o equilíbrio "emocional-racional" descompensado. Ou fica um vulcão emocional de difícil convivência, tendo muita dificuldade para racionalizar e refletir sobre as situações que vive. Ou então fica tão racional, que até seus gestos de amor são contabilizados, racionalizados, medidos e claro, matematicamente "corretos". E não raras vezes reage violentamente, seja machucando-se ou machucando outros, com atitudes extremamente impulsivas ou friamente calculadas. Nesse estágio ela pode ver-se numa situação tão desesperadora, que olha em torno de si e tudo que desejaria era fugir dalí e nunca mais voltar. Mas então ao mesmo tempo ela vê-se sem saber como viver sem aquela situação ou sem aquela pessoa, porque eles e não ela, são sua referência máxima, o alicerce de todas as suas ações.
Ela só aprendeu a viver por aquelas pessoas, por aquela situação, por aquela causa. Ela não sabe mais viver por si mesma, e amar como extensão e consequência do seu próprio auto-amor. Então maridos difíceis, por exemplo, que mais que notadamente não a amam, só desrespeitam e a tiranizam, são suas tábuas de salvação. Embora elas saibam e até consigam dizer para algumas pessoas mais chegadas, que não amam mais o marido, ou que eles são tudo que elas não sonharam num homem, ou até mais, que eles só prestam mesmo como pais, nunca como esposos, elas não conseguem assumir isso para si mesmas, e passam dia após dia, fingindo para si mesmas que os amam e que sem eles não sabem viver. Claro que não sabem viver. Elas não sabe viver sozinhas, não sabem serem felizes por si mesmas, não sabem simplesmente existir e dar graças por isso. Esses maridos, ou filhos (há mães que se desesperam quando os filhos decidem se casar), ou mães e pais, passam a ser suas tábuas de salvação.
Enfrentam o sofrimento que for para não perderem essas pessoas, para agradarem essas pessoas, para que elas jamais decidam ir embora. Fazem o que for para fingirem para si mesmas, e até para essas pessoas, que as amam e as querem por perto. Se elas se mostram insatisfeitas ou ameaçam partir, a vida dessas pessoas ameaça acabar, e elas podem até preferir suicidarem-se a viver com a possibilidade de terem uma vida sem suas tábuas de salvação. Então nós vemos a contradição em muitos dos discursos dessas pessoas. Nos momentos em que a suas tábuas estão alí seguras em suas mãos, elas se sentem livres para dizerem que não suportam mais viver com aquelas pessoas, que sequer têm interesse em investir mais no relacionamento, que estão alí porque elas tem isso ou aquilo de bom, embora não tenham nada de bom no papel de que lhes cabe, ou porque pensa nos filhos, porque é mais cômodo, e chega ao ponto de se interessarem por outras pessoas e terem casos extra-conjugais. Mas é só surgir a ameaça de rompimento, ou um afastamento imposto pela vida, que essas mesmas pessoas ressurgem entre lágrimas, desespero e dor, dizendo o quanto a sua tábua é o seu grande amor, a pessoa mais importante do seu mundo, o quando ela é incompleta sem a sua presença e por aí até as mais arrebatadas declarações de amor incondicional.
Sim, isso mesmo, amor incondicional, que muitos confundem com amar sem ser amado. Amar incondicionalmente quer dizer amar sem restrições, amar sem condições, amar pura e simplesmente por amar, por nada mais. Não quer dizer amar sem ser amado. Essa é uma das características do amor incondicional, não seu significado. Agora caiamos na real: que mulher normal desse mundo (exclui-se as almas angelicais que volta e meia caem na Terra) amaria um homem sem desejar ser amada também? Que mulher romântica e normal nesse mundo, por exemplo, acharia que o amor de sua vida, é um homem que não seja capaz de lhe dizer nem mesmo um "eu te amo", que não seja capaz de lhe dar nem o menor e mais simplório gesto de romantismo? Sejamos francas: nenhuma! Mulher alguma, que seja minimamente bem-resolvida e romântica, e não seja uma alma verdadeiramente elevada e desprendida de um amor mundano, diria que um homem com esse perfil é o seu grande amor. Muito provavelmente ele é sua tábua de salvação, não o homem de seus sonhos. Se ela diz isso é porque está doentiamente se enganando e enganando o outro, não porque elevou-se à patamares realmente evoluídos de amor romântico incondicional, capazes de amar por esse prisma sem serem minimamente correspondidas em seus anseios de mulher. O mais notável é que essas pessoas continuam sendo egoístas, orgulhosas, cheias de falhas, como todos os seres-humanos normais aqui da Terra, mas só no amor romântico (ou filial, ou maternal) demonstram uma tamanha evolução espiritual, com um desprendimento e altruísmo capaz de deixar os anjos com inveja! Infelizmente não é evolução espiritual, mas as mais tristes e dolorosas máscaras...
Mas é claro que ele pode ser o homem dos sonhos de outras mulheres, mas não o de uma mulher que tem em seus anseios femininos mais secretos e doces, o romantismo do homem amado. Essa mulher, se diz para um homem com esse perfil, que ele é seu grande amor, sem dúvidas se apagou tanto, mas tanto, que está tentando ser a parceira ideal dele, abrindo mão de seus anseios femininos, negando-se enquanto mulher, para se tornar os anseios masculinos dele. Provavelmente ela terá sua tábua de salvação sempre ao lado dela, mas há que preço!
É muito, muito triste ver isso, ver uma pessoa, no papel que for, esquecer-se tanto de si mesma, que tenha a necessidade constante e perene de encaixar-se num lugar onde ela não cabe, ao mesmo tempo que tenta encaixar uma pessoa num lugar onde ela também não cabe, só para não ter que olhar verdadeiramente para si mesma, abrir mão de sua tábua de salvação (seria um ato não só de auto-respeito, mas de respeito ao outro, porque é muito humilhante ter alguém que nos ame porque somos suas tábuas de salvação) para aprender a andar sozinha, e então sim, conseguir saber "com quem ela deve andar" para viver uma vida de verdadeira partilha, de verdadeira utilidade, e sobretudo com as mãos verdadeiramente unidas.
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Casamento e Interesse
Muito se fala sobre o casamento por amor, mas pouco se fala sobre o casamento por amor aos próprios interesses. E aqui não digo sobre os casamentos arranjados e motivados pelos bens materiais, mas de casamentos que podem até se formar por paixão, mas que depois se transformam em um típico jogo de interesses.
Penso que hoje, a maioria dos casamentos chegam à esse patamar um dia. Podem ter começado com amor, com paixão, com entusiasmo de construirem uma família, mas que depois, com o tempo e as mudanças naturais que os cônjuges sofrem, o casamento começa a funcionar apenas porque é mais interessante para ambas as partes que ele continue.
Vê-se, nesse estágio, as famosas aparências, que na maioria das vezes são mantidas para ambos os cônjuges mesmo, não necessariamente para a sociedade. Eles precisam acreditar que o casamento não acabou, que o amor não acabou, que a solidão íntima que vivem é questão de tempo, que tudo vai passar um dia, mesmo que esse dia fique cada vez mais longe, emocionalmente. Há cônjuges que sequer amigos conseguem ser, quiçá pares românticos. Mas mesmo quando isso é óbvio para qualquer um que tenha um pouco de intimidade com esse casal, eles continuam dizendo que "o amor deles transcendeu para um patamar mais evoluído de relacionamento": cada um vive sua vida mental e emocional, cada um tem seus amigos que sequer se conhecem entre si, cada um tem seus interesses, e no máximo concordam na educação dos filhos. É, realmente um patamar mais elevado sim, mas não de amor, e sim de auto-ilusão.
É triste ver um casal nesse ponto, onde a separação seria mesmo o mais saudável, por uma questão mesmo de auto-respeito. Das piores coisas que existem é uma mulher, por exemplo, se prostituir para o próprio marido. Aquela mulher que não sente mais nada pelo homem com que vive, que apenas está acomodada à vida que já construiu, mas que continua tendo que deitar-se com ele. Não tem outro nome para isso além de prostituição. Ela vive intimamente com um homem que não ama mais, que não a completa mais, que nem mesmo amigo dela é mais, em troca de ter uma família.
Vejo mulheres, em confidências (que por acaso não gosto de ouvir, mas até que aprendi a dizer não, ou melhor, "não me conte sua vida íntima com seu marido", eu ouvi bastante coisa), relatarem o quanto seus maridos são ruins de cama, com direito a piadas degradantes sobre o desempenho do companheiro, o quanto se sentem sozinhas mesmo acompanhadas, o quanto são incompreendidas e até tolhidas em escolherem desde os amigos até as coisas mais banais, e mesmo assim dizerem: estou com meu marido porque somos ótimos para educar os filhos, porque ele me dá uma vida estável, porque ele não me bate, não bebe e nem tem vícios. Isso é prostituição. Se entregam à um homem que não lhes dão prazer, que não amam e nem mesmo respeitam, e igualmente não são amadas e respeitadas, só para ganharem uma família, estabilidade e segurança no lar.
Enfim, o fato é: vivem com eles, têm vida sexual ativa e regular com eles, não por amor, mas por interesses pessoais. É prostituir-se para o próprio marido. E com agravantes, porque as prostitutas de luxo, em muitos casos, podem selecionar seus clientes, ou serem livres para terem uma vida só delas em paralelo: estudarem, viajarem, terem amigos, cuidarem de si mesmas. Essas esposas além de se prostituirem, estão presas à um homem que não lhes interessa nem emocionalmente e nem sexualmente, e não são livres para viverem a própria vida, e pelo menos crescerem pessoalmente enquanto mulheres.
E é por isso que acredito que, por mais difícil que possa ser para a pessoa, ela precisa desesperadamente assumir para si mesma a mentira que vive, para então, mesmo que seja aos poucos, ir se libertando dessa relação e aprendendo, pouco a pouco, a ir embora viver a própria vida, com dignidade e auto-respeito. Vivendo sozinha mesmo, ou encontrando um outro companheiro com quem ela possa fazer amor de verdade, partilhar o mundo dela, receber o mundo dele, sentir realmente prazer emocional na relação, em suma, ser feliz.
Há quem resista por anos e anos à fio numa relação assim, porque é mais importante para essas pessoas terem uma família tradicional, do que viverem a realidade da mudança, da necessidade de renovação e até da honestidade com eles mesmos. E muitos, mas muitos mesmo estão assim porque têm pavor de assumirem até para eles mesmos que o amor acabou, que a relação acabou, que simplesmente não deu certo, como muitas coisas na vida não dão. A maioria tem isso num nível quase consciente, que vêm à tona nos momentos de maior sofrimento, mas quase que instantaneamente, recolocam no subconsciênte e abraçam outra vez a máscara da estabilidade. É triste ver tanta gente sofrendo por medo...
Ficam todos os dias buscando detalhes que lhes provem que o amor ainda existe, ou procurando nas entrelinhas qualquer coisa que lhes diga que vale à pena continuar investindo. E cada dia esse investimento sai mais caro... Um dia, quando ambos estão doentes emocional e psicologicamente, "a casa cai", e não raras vezes o estrago é grande, de difícil recuperação. E muitas vezes o estrago é tão grande que eles nem tem mais coragem, condições e até disposição para recomeçarem.
Não há nada mais humilhante para uma pessoa que outra estar ligada à ela por compromisso ou interesse pessoal, mesmo que esse interesse seja a educação dos filhos. A união de qualquer casamento deve ser o amor e o prazer emocional que a vida à dois lhes proporciona, a saúde que o companheirismo autêntico lhes dão enquanto individualidades. Na verdade um casamento de mentira não trás estabilidade, não garante a segurança no lar e menos ainda educa os filhos, pelo contrário, destrói toda a esperança que eles poderiam depositar na sagrada instituição da família e na felicidade plena que o amor pode dar à nós, seres-humanos, que fomos criados por Deus para o amor, não para a mentira.
Penso que hoje, a maioria dos casamentos chegam à esse patamar um dia. Podem ter começado com amor, com paixão, com entusiasmo de construirem uma família, mas que depois, com o tempo e as mudanças naturais que os cônjuges sofrem, o casamento começa a funcionar apenas porque é mais interessante para ambas as partes que ele continue.
Vê-se, nesse estágio, as famosas aparências, que na maioria das vezes são mantidas para ambos os cônjuges mesmo, não necessariamente para a sociedade. Eles precisam acreditar que o casamento não acabou, que o amor não acabou, que a solidão íntima que vivem é questão de tempo, que tudo vai passar um dia, mesmo que esse dia fique cada vez mais longe, emocionalmente. Há cônjuges que sequer amigos conseguem ser, quiçá pares românticos. Mas mesmo quando isso é óbvio para qualquer um que tenha um pouco de intimidade com esse casal, eles continuam dizendo que "o amor deles transcendeu para um patamar mais evoluído de relacionamento": cada um vive sua vida mental e emocional, cada um tem seus amigos que sequer se conhecem entre si, cada um tem seus interesses, e no máximo concordam na educação dos filhos. É, realmente um patamar mais elevado sim, mas não de amor, e sim de auto-ilusão.
É triste ver um casal nesse ponto, onde a separação seria mesmo o mais saudável, por uma questão mesmo de auto-respeito. Das piores coisas que existem é uma mulher, por exemplo, se prostituir para o próprio marido. Aquela mulher que não sente mais nada pelo homem com que vive, que apenas está acomodada à vida que já construiu, mas que continua tendo que deitar-se com ele. Não tem outro nome para isso além de prostituição. Ela vive intimamente com um homem que não ama mais, que não a completa mais, que nem mesmo amigo dela é mais, em troca de ter uma família.
Vejo mulheres, em confidências (que por acaso não gosto de ouvir, mas até que aprendi a dizer não, ou melhor, "não me conte sua vida íntima com seu marido", eu ouvi bastante coisa), relatarem o quanto seus maridos são ruins de cama, com direito a piadas degradantes sobre o desempenho do companheiro, o quanto se sentem sozinhas mesmo acompanhadas, o quanto são incompreendidas e até tolhidas em escolherem desde os amigos até as coisas mais banais, e mesmo assim dizerem: estou com meu marido porque somos ótimos para educar os filhos, porque ele me dá uma vida estável, porque ele não me bate, não bebe e nem tem vícios. Isso é prostituição. Se entregam à um homem que não lhes dão prazer, que não amam e nem mesmo respeitam, e igualmente não são amadas e respeitadas, só para ganharem uma família, estabilidade e segurança no lar.
Enfim, o fato é: vivem com eles, têm vida sexual ativa e regular com eles, não por amor, mas por interesses pessoais. É prostituir-se para o próprio marido. E com agravantes, porque as prostitutas de luxo, em muitos casos, podem selecionar seus clientes, ou serem livres para terem uma vida só delas em paralelo: estudarem, viajarem, terem amigos, cuidarem de si mesmas. Essas esposas além de se prostituirem, estão presas à um homem que não lhes interessa nem emocionalmente e nem sexualmente, e não são livres para viverem a própria vida, e pelo menos crescerem pessoalmente enquanto mulheres.
E é por isso que acredito que, por mais difícil que possa ser para a pessoa, ela precisa desesperadamente assumir para si mesma a mentira que vive, para então, mesmo que seja aos poucos, ir se libertando dessa relação e aprendendo, pouco a pouco, a ir embora viver a própria vida, com dignidade e auto-respeito. Vivendo sozinha mesmo, ou encontrando um outro companheiro com quem ela possa fazer amor de verdade, partilhar o mundo dela, receber o mundo dele, sentir realmente prazer emocional na relação, em suma, ser feliz.
Há quem resista por anos e anos à fio numa relação assim, porque é mais importante para essas pessoas terem uma família tradicional, do que viverem a realidade da mudança, da necessidade de renovação e até da honestidade com eles mesmos. E muitos, mas muitos mesmo estão assim porque têm pavor de assumirem até para eles mesmos que o amor acabou, que a relação acabou, que simplesmente não deu certo, como muitas coisas na vida não dão. A maioria tem isso num nível quase consciente, que vêm à tona nos momentos de maior sofrimento, mas quase que instantaneamente, recolocam no subconsciênte e abraçam outra vez a máscara da estabilidade. É triste ver tanta gente sofrendo por medo...
Ficam todos os dias buscando detalhes que lhes provem que o amor ainda existe, ou procurando nas entrelinhas qualquer coisa que lhes diga que vale à pena continuar investindo. E cada dia esse investimento sai mais caro... Um dia, quando ambos estão doentes emocional e psicologicamente, "a casa cai", e não raras vezes o estrago é grande, de difícil recuperação. E muitas vezes o estrago é tão grande que eles nem tem mais coragem, condições e até disposição para recomeçarem.
Não há nada mais humilhante para uma pessoa que outra estar ligada à ela por compromisso ou interesse pessoal, mesmo que esse interesse seja a educação dos filhos. A união de qualquer casamento deve ser o amor e o prazer emocional que a vida à dois lhes proporciona, a saúde que o companheirismo autêntico lhes dão enquanto individualidades. Na verdade um casamento de mentira não trás estabilidade, não garante a segurança no lar e menos ainda educa os filhos, pelo contrário, destrói toda a esperança que eles poderiam depositar na sagrada instituição da família e na felicidade plena que o amor pode dar à nós, seres-humanos, que fomos criados por Deus para o amor, não para a mentira.
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